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Público - 9 Fev 04
Sacrifícios para Equilibrar Contas Públicas Valem a Pena
Por LUÍS MIGUEL VIANA
Mais de metade dos portugueses acham que "valem a pena" os sacrifícios que
estão a ser feitos para manter as contas públicas equilibradas e para não
aumentar a dívida do Estado. Este é um dos resultados da sondagem para o
programa "Prós e Contras" da RTP, que hoje à noite discutirá a situação
económica em Portugal e a sua percepção pela população.
Entre os sacrifícios que os portugueses estão a fazer contam-se, entre
outros, o aumento do IVA de 17 para 19 por cento, a limitação dos
investimentos das autarquias, o congelamento das admissões em boa parte da
administração e o segundo ano consecutivo sem aumento salarial para todos
os quadros da função pública. Não é pouco mas, apesar desta "cura de
emagrecimento", a maioria dos inquiridos entendem que os sacrifícios valem
a pena a longo-prazo. E há um dado muito curioso, embora porventura
natural: quanto mais jovens são os inquiridos, mais forte se revela esta
opinião. Na divisão por sexos, verifica-se que os homens acreditam mais
nos benefícios da dieta, enquanto as mulheres estão menos convencidas.
Uma das questões em que se percebe que não há acordo é naquela que
interroga sobre de quem é a culpa da situação a que chegaram as finanças
públicas e o vigor da economia. Há ainda uma parcela muito substancial (28
por cento) que culpa os já distantes governos de António Guterres, sinal
de que o discurso de Durão Barroso sobre o "país de tanga" calou fundo.
Contudo, passados quase dois anos de governação, a maioria (33 por cento)
começa a pensar que a culpa já pertence às políticas protagonizadas por
Manuela Ferreira Leite.
Trata-se, portanto, de uma questão em que os inquiridos estão claramente
divididos sobre quem terá maiores responsabilidades. Observa-se, contudo,
que, quanto mais velhos são os inquiridos, mais se inclinam a deitar as
culpas para o actual Governo.
Sintonia com o Presidente
Passando das culpas para a escolha do caminho que há-de levar o país a um
novo modelo de gestão dos dinheiros públicos, a sondagem encontrou, com
grande clareza, uma vontade de que o PSD e o PS se entendam à volta das
principais questões de enquadramento económico-financeiro. Encontra-se,
neste caso, uma grande sintonia com o apelo que foi dirigido aos deputados
em meados de Janeiro pelo Presidente da República no sentido de os dois
partidos que alternam na governação celebrem um pacto de regime sobre esta
questão.
Uma maioria relativa de 46 por cento inclina-se para a bondade desse pacto
sobre as finanças públicas, sendo que as mulheres são substancialmente
mais cépticas - 45 por cento diz que "nem uma coisa, nem outra".
Registe-se também que, quanto mais velhos são os inquiridos, mais se
manifestam a favor de um pacto.
Quanto à questão de os orçamentos de Estado passarem a conter compromissos
para os anos seguintes, quase metade (49 por cento) responde que sim, que
devem ter compromissos plurianuais. Há, todavia, uma considerável
percentagem de portugueses (36 por cento) a sustentar que os orçamentos só
deverão conter compromissos para o ano específico a que se referem.
Quando hoje à noite o "Prós e Contra" for para o ar na RTP estarão em
antena, para além de Fátima Campos Ferreira, que moderará o debate,
convidados como o ex-ministro das Finanças de António Guterres, Joaquim
Pina Moura, o presidente da EDP, João Tallone, o vice-presidente do BPI,
Fernando Ulrich, ou Luís Campos e Cunha, professor de Economia da
Universidade Nova de Lisboa. No final do debate o comentário de síntese
será feito por Carlos Rosado de Carvalho, editor de Economia do PÚBLICO.
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