Público - 10 Fev 04
Uma em Cada Três Crianças Que Trabalha nos Espectáculos Falta às Aulas
Por LUSA
Um em cada três menores que trabalham em espectáculos, moda e publicidade
falta com frequência às aulas, e cerca de 20 por cento já reprovaram de
ano, revela um estudo inédito ontem divulgado pelo Ministério da Segurança
Social e do Trabalho.
Ao divulgar ao estudo, o ministro Bagão Félix disse que as actividades dos
menores em espectáculos, moda e publicidade são "aparentemente mais
aceitáveis, mais visíveis e praticadas por estratos da sociedade com
maiores capacidades de influenciar os outros e, por isso, mais toleradas".
No entanto, salientou, "tem havido usos e abusos" que justificaram avaliar
"em que medida é que este trabalho influencia a escolaridade, a segurança,
a saúde física e mental e se potencia ou não o normal desenvolvimento da
criança de acordo com a sua idade".
Os resultados do estudo "Caracterização das actividades dos menores em
espectáculos, moda e publicidade" foram apresentados pelo presidente do
SIETI - Sistema de Informação e Estatística do Trabalho Infantil, Sousa
Fialho. Este responsável revelou que "a actividade do menor pode por vezes
afectar a escola", sendo que "os níveis de retenção (reprovação) rondam os
20 por cento, e cerca de 40 por cento dos menores que já reprovaram
encontram a justificação na actividade, nomeadamente por falta de tempo
para estudar e pelas faltas dadas às aulas".
"O absentismo é, de facto, uma das principais consequências do exercício
da actividade", já que "um em cada três menores reconhece que falta com
frequência às aulas", sublinhou.
De acordo com o presidente do SIETI, cerca de 65 por cento dos menores
afirmaram que foi o incentivo de familiares que os motivou para o
exercício dessas actividades. Trata-se, na maior parte dos casos, de
famílias nucleares em que os pais têm um nível de habilitações elevado.
Para a generalidade dos inquiridos, a participação em espectáculos é
ocasional, embora para alguns possa ser frequente e contínua.
"Apesar da ocasionalidade destas actividades, por vezes elas são exercidas
em ritmos intensos (durante mais de sete horas)", aponta o estudo. É na
moda e publicidade (34 por cento) e na televisão, cinema e teatro (34 por
cento) que se verificou a maior incidência de participação de menores. No
circo, a participação de jovens ronda os 20 por cento e nas áreas da
música e da dança fica-se pelos 13 por cento.
Sousa Fialho revelou ainda ser inferior a mil o número de jovens a
trabalhar nestas áreas. Segundo o ministro do Trabalho, Bagão Félix, o
parlamento deverá aprovar no próximo mês legislação (actualmente em fase
de discussão pública) sobre o trabalho infantil nestas áreas.
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