Público - 2
Fev 06
MP pede prisão efectiva no caso de corridas
ilegais
Cláudia Veloso
Mortes em corrida de tunning em Palmela entrou
nas alegações finais
O Ministério Público (MP) pediu
ontem, no Tribunal de Setúbal, "pena de prisão
efectiva" para o jovem Neutel Mendes, acusado da
morte de três pessoas e de ferimentos em outras
duas, na sequência de um despiste durante uma
corrida ilegal de automóveis em Palmela, em Setembro
de 2004.
A defesa do arguido considera, porém, que a prova
produzida durante o julgamento foi "muito
incipiente" e pede a suspensão de uma eventual pena
que venha a ser aplicada.
Para a procuradora da República, Joaquina Machado,
ficou provado que Neutel Mendes foi o "responsável
pelos resultados nefastos" do acidente e que as
velocidades atingidas na chamada "recta do picanço",
em Palmela, ultrapassaram as permitidas por lei.
"Tal estaria em contradição com o próprio espírito
das corrias que ali decorriam", disse a procuradora
admitindo, porém, que não foi possível apurar, "com
certeza absoluta", a que velocidade seguiam os dois
carros que disputavam a corrida.
O Ministério Público considera também que Neutel
Mendes, de 23 anos, "tinha consciência das eventuais
consequências" daquela prática e que a "gravidade
dos factos" em julgamento leva à "necessidade de uma
prevenção geral para que não aconteçam situações
idênticas". Além disso, o jovem já tinha
antecedentes criminais - fora apanhado a conduzir
sem carta duas vezes -, pelo que, no entender da
acusação, "a seu favor só teve a confissão, ainda
que parcial, e o arrependimento".
Independentemente da decisão do tribunal recair
sobre o homicídio voluntário com dolo ou sobre o
homicídio por negligência grosseira, o Ministério
Público pede uma "pena de prisão efectiva, que não
deve ser excessivamente grave, por se tratar de um
jovem inserido na sociedade".
Neutel Mendes encontra-se em prisão domiciliária com
pulseira electrónica e afirmou estar "bastante
arrependido" e "marcado para o resto da vida" com o
que aconteceu.
O comportamento do jovem foi um dos aspectos
realçados pela sua advogada, Graça Rodrigues, para
quem "não restam dúvidas" acerca da veracidade e
credibilidade do depoimento. "É excessivo dizer que
estes jovens foram para ali com um intuito criminoso
ou delinquente", disse ontem a advogada, frisando
que as características do acidente em que o jovem
esteve envolvido "são diferentes das de um acidente
numa estrada nacional, com passadeiras, marcações,
passeios e semáforos".
A advogada valeu-se ainda dos relatórios do
Instituto de Reinserção Social e da avaliação
psiquiátrica de Neutel Mendes para provar o carácter
"frágil, imaturo e influenciável" do arguido. "É uma
pessoa absolutamente imputável, mas a sua
personalidade deve ser tida em conta como
atenuante." Para Graça Rodrigues, o jovem deve ser
"sancionado na medida da sua culpa concreta" e a
pena "não pode ser influenciada pela legítima dor
das famílias das vítimas".
O entendimento da defesa no que respeita à prova
produzida em tribunal também diverge do Ministério
Público. Graça Rodrigues considera que não ficou
provada a velocidade elevada dos veículos nem a
"imperícia e vontade de se exibir" de Neutel. Nesse
sentido, "o dolo não ficou minimamente provado",
afirmou.
O julgamento prossegue no próximo dia 21 de
Fevereiro.