Público -
13
Fev 06
Dados de 2005
Maioria dos condutores com álcool a mais mortos em
acidente acusou valores muito elevados
Sofia Rodrigues
Um terço do total
de vítimas tinha uma taxa de alcoolemia ilegal, diz
o Instituto Nacional
de Medicina Legal
A maioria (75 por cento) dos
condutores que no ano passado morreram em acidentes
de viação e que acusavam álcool no sangue
apresentava uma taxa crime, ou seja, superior a 1,2
gramas por litro (g/l) e punida com pena de prisão,
revelam dados do Instituto Nacional de Medicina
Legal (INML).
Num universo de 182 condutores que acusaram mais de
0,5 g/l, 138 tinham bebido bastante mais antes de
conduzir - atingiram mais do que 1,2 g/l, segundo os
resultados das autópsias feitas no ano passado pelas
três delegações (Lisboa, Porto e Coimbra) do INML.
Para acusar uma taxa de 1,2 g/l é preciso ingerir em
média seis bebidas alcoólicas.
Outros 44 condutores mortos na sequência de
acidentes rodoviários acusaram valores entre os 0,5
e os 1,19 g/l, o que também é punido por lei.
No universo de 321 vítimas que morreram ao volante
com uma taxa de alcoolemia legal (até 0,49 g/l),
desconhece-se quantos se abstiveram de beber antes
de conduzir.
O Código da Estrada só prevê sanções para os
condutores a partir dos 0,5 g/l - valor que é
atingido com a ingestão de dois copos de vinho em
média. Uma taxa de alcoolemia até 0,19 g/l é punida
com coimas (entre os 250 e os 2500 euros) e inibição
de conduzir (entre um mês e dois anos). A partir de
1,2 g/l, a lei prevê a detenção do condutor, que
fica sujeito a uma pena de prisão máxima de um ano
ou pena de multa até 120 dias.
Mais de um terço (36 por cento) do total de
condutores autopsiados pelo INML, em 2005, após o
acidente de viação acusaram para cima de 0,5 g/l. Há
ainda outras 440 pessoas que morreram nas estradas
portuguesas, mas a sua condição (condutor, peão ou
passageiro) é desconhecida.
Insensíveis aos riscos
Em relação aos peões que morreram atropelados, a
maior parte (71 por cento) dos 193 que foram
autopsiados acusou uma quantidade mínima de álcool
(até 0,5 g/l), desconhecendo-se também o número
exacto dos que tinham zero na altura do acidente.
Para Rui Tato Marinho, hepatologista no Hospital de
Santa Maria, em Lisboa, os dados do INML significam
que os condutores são insensíveis aos riscos
associados ao consumo de álcool. "As pessoas não têm
consciência ou não são informadas ou não ligam
porque sempre fizeram assim e nunca lhes aconteceu
nada", comenta o especialista, lembrando que ingerir
quantidades de álcool equivalentes a 1,2 g/l aumenta
em 35 vezes o risco de morte ao volante face aos que
se abstêm de beber.
Rui Tato Marinho defende que para salvar vidas devia
aplicar-se efectivamente a lei. "Os estudos dizem
que em média se deve ser testado pela polícia de
dois em dois anos; eu conduzo há mais de 20 e nunca
o fui", diz o especialista, que atende muita gente
entre os 30 e os 40 anos com cirroses no fígado.
O hepatologista, também professor na Faculdade de
Medicina de Lisboa, lamenta a falta de mais
estatísticas sobre este comportamento de risco ao
volante. Um maior detalhe dos números poderia
revelar que os condutores com álcool que morrem em
acidentes rodoviários são sobretudo jovens do sexo
masculino, acrescenta.
Os serviços do INML também apuram as quantidades de
álcool em condutores ou peões que se envolveram em
acidentes de viação (e que sobreviveram) ou em
pessoas que pedem uma contraprova ao teste do balão
feito na estrada pelas polícias.
No caso dos condutores, os testes de álcool feitos
entre os que acusaram mais de 0,5 g/l em 2005 também
revelam que o maior peso está no consumo considerado
crime. Em 1219 casos, 853 acusaram mais de 1,2 g/l.
No entanto, há ainda mais de três mil resultados
(1800 dos quais se revelaram positivos) cuja
identificação - condutor, peão ou passageiro - é
desconhecida.
Os números apurados em 2005 pelas três delegações do
INML, que cobrem todo o país, são bastante
semelhantes aos verificados no ano anterior. Mais de
metade dos condutores mortos em acidente e
autopsiados revelaram ter valores de álcool acima da
taxa legal. Também em 2004 a estatística mostrava
que a maioria estava embriagada com mais de 1,2 g/l
no momento do acidente.