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Público - 15 Fev 06
Contas da Segurança Social cumpriram previsões do OE de 2005
Paulo Ferreira Os 186 milhões de excedente batem certo com os previstos por
Bagão Félix. O cenário feito por Constâncio para
Sócrates errou
em 800 milhões
A "boa notícia" que, nas palavras
do actual ministro das Finanças, representa a
execução das contas da Segurança Social do ano
passado divulgada na segunda-feira já estava
prevista no Orçamento do Estado para 2005 original,
elaborado por Bagão Félix e aprovado pela maioria
PSD-CDS: os 186 milhões de euros de excedente
anunciados são praticamente iguais aos 186,9 milhões
de euros que o documento previa.
A ligar estes dois pontos esteve, no entanto, um
caminho sinuoso, que passou pelo relatório da
chamada "Comissão Constâncio", que em Maio de 2005
"corrigiu" negativamente o saldo previsto em cerca
de 800 milhões de euros. Este cenário negro do
relatório do governador do Banco de Portugal, que
atirava a Segurança Social para um défice de 618,5
milhões de euros, acaba por ser desmentido, pelo
menos no seu resultado final.
O Banco de Portugal, através do seu porta-voz, João
Matela, referiu ao PÚBLICO que estas contas "foram
feitas com base nas políticas que estavam definidas
na altura [pelo Governo de Santana Lopes]" e,
entretanto, "em parte em resultado das previsões
realizadas, foram tomadas medidas especificas [já
pelo Governo de José Sócrates] para reduzir o
défice, como, por exemplo, o aumento do IVA com um
ponto percentual atribuído à Segurança Social, ou as
medidas de recuperação extraordinária de dívidas, as
quais tiveram um assinalável sucesso impossível de
prever há um ano". Foram estas previsões
pessimistas, sustenta a instituição, que levaram à
tomada de medidas que levaram a um resultado final
semelhante ao inicialmente previsto.
A comissão liderada pelo governador do Banco de
Portugal, recorde-se, foi criada por José Sócrates à
chegada a S. Bento com o objectivo de "elaborar uma
estimativa do défice orçamental previsível para
2005" tendo em conta o orçamento aprovado pelo
anterior Governo e "considerando as reais
perspectivas de evolução dos respectivos
pressupostos económicos". Do seu trabalho resultou a
correcção do défice previsto de 2,6 por cento para
6,8 por cento.
Governo apoia
Constâncio...
O Ministério da Segurança Social aponta na mesma
direcção das explicações do banco central. José
Pedro Pinto, assessor de imprensa, sai em defesa do
relatório de Vítor Constâncio. "O resultado final é,
de facto, o mesmo. Mas isso é apenas uma
coincidência contabilística", afirma, justificando
com os quase 500 milhões de euros que a "Comissão
Constâncio" diminuiu na previsão de receita deixada
por Bagão Félix, por considerar que "o ministério
jamais a conseguiria". Mas afinal conseguiu. Como?
"Com medidas de combate à fraude, com o aumento das
contribuições de trabalhadores independentes de 1
por cento para 1,5 por cento do salário mínimo",
para dar dois exemplos. Para este Governo, a
previsão deixada pelo executivo anterior não era
realista, foi corrigida por Vítor Constâncio, e foi
o trabalho desta legislatura que conseguiu trazer o
saldo da Segurança Social para um valor igual ao
anteriormente previsto. Para sustentar esta tese são
avançadas diferenças entre receitas e de despesas
conseguidas e as anteriormente previstas.
... que é criticado
por Bagão Félix
Quem não aceita esta lógica é Bagão Félix, o autor
do OE 2005, que, nas suas palavras, se tornou
"maldito". "O "relatório Constâncio" falhou
estrondosamente, a não ser que se ache que só com
este Governo se seria capaz de tão escorreita
execução e que todos os outros seriam de uma
inaptidão certificada", comenta o ex-governante.
"Mas o passe de mágica parece ter mais uma vez
resultado: pintar de muito negro o cenário e depois
glorificar o branqueamento do mesmo", acrescenta.
Bagão Félix acusa o documento do governador do Banco
de Portugal de "pessimismo programado" por ter
agravado, apenas nas contas da Segurança Social, o
défice orçamental em 805 milhões de euros, quase 0,6
por cento do PIB.
"Com o dito relatório e o consequente orçamento
rectificativo, conseguiram-se dois efeitos em um:
por um lado, destruir falsamente a credibilidade do
Orçamento inicial e por outro festejar
exuberantemente a dita grande performance de
execução", afirma, para concluir: "Esqueceram-se,
porém, que se não houvesse o Orçamento rectificativo
e o "Relatório Constâncio", afinal a execução teria
sido idêntica à previsão inicial pela qual fui
responsável".
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