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Diário Regional de Viseu - 24 Fev 06
"Existe uma cultura anti-natalista"
De acordo com as
estatísticas, a população portuguesa aumentou em quase 50 mil pessoas em 2005,
mas só um quinto deste aumento refere-se a nascimentos. Segundo os
especialistas, nascem menos crianças (uma média de 150 por dia) do que seria
necessário para se garantir a indispensável renovação das gerações.
Dados que resultam numa taxa de natalidade na ordem dos 1,47 em Portugal quando
o ideal seria de 2,1 filhos por mulher, como salientou ontem ao nosso Jornal
Fernando Castro, presidente da Associação Nacional das Famílias Numerosas (ANFN).
"Estes números não são bons, mas parece que o Governo não está preocupado com
isso", sustentou o responsável que receia que a taxa de natalidade continue a
diminuir no nosso país, colocando problemas de sustentabilidade económica e de
coesão social.
Para Fernando Castro, o Governo, antes de mais, deveria "falar verdade" e
assumir que "isto começa a ser um problema. É bom que as pessoas comecem a abrir
os olhos".
O presidente da Associação disse ser urgente a tomada de medidas para inverter a
situação, apontando algumas iniciativas que a Administração Central deveria
realizar para acabar com aquilo que considerou ser "uma cultura anti-natalista".
"O que defendemos, entre outras coisas, é, por exemplo, indexar as reformas ao
número de filhos e deixar de penalizar os casais em termos fiscais", anunciou
Fernando Castro, acrescentando ainda ser importante aumentar as pensões
familiares (abonos) "para um nível decente".
"Porque não actualizá-las com o mesmo critério que foi utilizado para as
propinas nas universidades", disse, criticando o valor que é atribuído por cada
filho. "Até os criadores de porcos e bezerros recebem mais de subsídio",
ironizou.
Na opinião deste responsável, a diminuição na natalidade é "um problema que deve
ser encarado a curto prazo", adiantando que caberá também a esta geração "agir
em conformidade".
Outro problema levantado pelo presidente da Associação refere-se não só ao menor
número de crianças, mas também "ao tipo que hoje temos". Explicou que a
sociedade está "a criar" crianças em "famílias que não são estruturadas",
resultando "mais tarde em deliquência e até mesmo criminalidade". Sobre este
assunto, Fernando Castro frisou também que o Governo "não pode fechar os olhos".
"O Estado tem que perceber que tudo isto são como as borbulhas que aparecem na
cara. Temos que ir ao médico para saber qual é a origem, e não tapá-las com
cremes", exemplificou.
Actualmente, entre os 25 da UE, nenhum país atinge a taxa ideal de substituição
de 2,1 filhos por mulher. Os mais próximos e "campeões da fertilidade" são a
Irlanda com 1,99 e a França com 1,94. Nestes dois países há várias regiões,
incluindo a urbana Ile-de-France/Paris, a registar números de natalidade altos,
embora o máximo em termos regionais pertença à espanhola Mellila, no Norte de
África. A Espanha conta, no entanto, também com duas das regiões com mais baixa
natalidade da União Europeia, as Astúrias e a Galiza, com Bucarest, na Roménia,
em terceiro lugar.
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