Diário  de Notícias - 16 Fev 07

 

Desemprego dispara para o nível mais alto dos últimos 20 anos

Manuel Esteves


O Instituto Nacional de Estatística (INE) surpreendeu ontem o País ao anunciar um forte crescimento do desemprego no último trimestre de 2006. De 7,4% no terceiro trimestre, a taxa de desemprego passou para 8,2%, e acima da que se verificara um ano antes - 8%.

Este agravamento notável do desemprego não só contraria os sinais de recuperação como ergue o número total de desempregados para o nível mais elevado desde, pelo menos, 1986: são 458,6 mil pessoas que declaram não ter emprego; estar disponíveis para trabalhar e terem feito diligências nesse sentido nas três semanas anteriores à data do inquérito.

No último trimestre do ano, entre os que encontraram emprego e os que o perderam sobraram 11 mil novos desempregados. De onde vieram eles? Como se pode ver no gráfico em baixo, o agravamento "líquido" do desemprego assentou exclusivamente nas mulheres pouco qualificadas e com experiência profissional anterior no sector dos serviços.

Norte volta a ser fustigado

A região Norte voltou a ser a mais fustigada pelo desemprego, reforçando a sua posição destacada no país. O número de desempregados no Norte aumentou 7,1% em termos homólogos para atingir os 193 mil, ou seja, 42% do universo das pessoas sem emprego (bem acima da fatia de 35,5% da população activa que vive nesta região). As duas outras regiões mais relevantes, Centro e Lisboa e Vale do Tejo, onde houve ligeiras reduções homólogas, concentram, respectivamente, 17% e 27% da população desempregada.

Também no Algarve houve um agravamento do desemprego, de 8%, mas que tem contornos essencialmente sazonais, associado ao fim da estação balnear. Tanto nesta região como nas Ilhas, onde se registaram igualmente variações acentuadas (mais 16% na Madeira e menos 8% nos Açores), os dados do desemprego devem ser lidos com particular prudência dado o nível de erro que lhes está associado.

Nove mil empregos criados em dois anos

Nos últimos dois anos, a economia portuguesa criou 8,9 mil postos de trabalho. Segundo o INE, no último trimestre de 2006 estavam empregadas 5142,8 pessoas contra 5133,8 mil no último trimestre de 2004. Este fraco crescimento, todo baseado no último ano, contrasta com uma variação bem mais significativa do número médio anual de empregados entre 2004 e 2006, de 37 mil, também acumulado integralmente no último ano. Aparentemente, os empregos criados terão sido de curta duração. Aquela criação líquida de nove mil postos de trabalho torna duvidoso o cumprimento da meta da criação de 150 mil novos empregos durante esta legislatura, com que o Governo se comprometeu.

Confrontado com os dados do INE, o ministro do Trabalho admitiu ser um dado negativo, mas desvalorizou-o à luz do crescimento expectável da economia. Para Vieira da Silva, esta subida do desemprego é "um momento e não uma tendência", tendo em conta o "indiscutível" crescimento da economia. As centrais sindicais, por seu lado, atribuíram as responsabilidades ao fraco crescimento económico e insistiram na necessidade de mudar o modelo económico do País.