Correio da Manhã - 27 de Janeiro

EPISCOPADO PEDE DESCIDA DE IMPOSTOS

O bispo de Viseu, D. António Monteiro, defende uma redução da carga fiscal para os agregados familiares e manifesta-se contra a possibilidade de um novo referendo sobre o aborto

LEIRIA (Delegação) - - O presidente da Comissão Episcopal da Família, D. António Monteiro, denunciou ontem em Fátima o agravamento da carga fiscal sobre as famílias portuguesas, que no seu entender vem colocar em causa a formação de casais e incentivar as uniões de facto. "Não nos podemos calar perante os abusos do Estado, que está a prejudicar as famílias", disse D. António Monteiro, que também se manifestou frontalmente contra a possibilidade de um novo referendo ao aborto. O agravamento fiscal a que o prelado se referiu toma forma através da imposição de uma taxa de 35 euros para registo das actas de casamento, medida que D. António Monteiro considerou "inaceitável" e "provocatória". "Isto é como se fosse um imposto para registar um casamento", frisou. As críticas do bispo de Viseu ao novo imposto tem a sua razão de ser, pois o que antes era gratuito é agora taxado pelo Estado, ao mesmo tempo que a Igreja avança com a gratuidade dos sacramentos, nomeadamente do matrimónio. Reunido em Fátima com os responsáveis dos secretariados dioceasanos da Pastoral Familiar, o bispo de Viseu lamentou a sobrecarga de impostos que os casais têm que enfrentar e acusou o Governo de tomar medidas "que são autênticos ataques e ofensas à família, que acabam por empurrar os casais para as uniões de facto e prejudicar a realização dos casamentos". "Como é que se faz isto sem dizer nada a ninguém", questionou, considerando que em Portugal não existe uma política de incentivo às famílias. Na opinião do bispo, os casais deveriam beneficiar de maiores reduções de impostos e de mais apoios para os filhos. "Uma criança que não sente o carinho da família fica deficiente e desiquilibrada", salientou. Por isso, as mães deviam ser apoiadas para acompanhar a educação dos filhos, "pelo menos até aos cinco anos". O prelado disse ainda que gostaria de ver instituído um subsídio de maternidade.

Apelo aos políticos


"Estamos a criar uma sociedade de desiquilibrados e criminosos e depois gasta-se dinheiro em tratamentos e nas cadeias", disse D. António Monteiro, pedindo aos políticos para pensarem mais "nos homens de amanhã". Em concreto, o bispo de Viseu reclama uma revisão das leis laborais que permita auxiliar os casais mais jovens e tenha em conta a necessidade dos pais estarem juntos "num determinado período do dia", para acompanhamento dos filhos. D. António Monteiro admitiu que a "actual desregulação familiar" deve-se também à falta de protagonismo dos cristãos. "É preciso que as famílias, principalmente as católicas, se interessem pelos problemas e tomem posições no sentido de forçar o Estado a seguir o melhor caminho", sublinhou. D. António Monteiro salientou que a reunião de ontem procurou estabelecer as linhas de actuação para "uma maior afirmação dos valores cristãos na sociedade", através dos núcleos familiares.

Não ao aborto

No encontro que decorreu ontem em Fátima, D. António Monteiro também se pronunciou sobre a possibilidade de um novo referendo sobre a questão do aborto, levantada na sequência do julgamento na Maia. Segundo o presidente da Comissão Episcopal da Família, quem pretende uma nova consulta "não está a respeitar o povo, que já se pronunciou claramente contra o aborto". Comentando o regresso do debate sobre a lei do aborto e o julgamento da Maia, D. António Monteiro salientou que foi seguida uma ei que existe e que "foi aprovada pelos portugueses". "Não estamos preocupados, mas aborrecidos com esta discussão, que parece não terminar", lamentou o prelado, considerando que os políticos e comentadores que falam sobre o assunto "estão a promover o aborto". Classificando de "indecente" uma eventual revisão à lei actual, o bispo convidou os cristãos a responderem às críticas dos que chamam "retrógradas" a quem é contra o aborto. "Ninguém tem o direito de enganar o povo, sejamos honestos e não andemos a enganar as pessoas", apelou. Para o bispo de Viseu, as famílias e os pais "têm de reagir e responder a estas críticas que não fazem sentido", acrescentandom que a Igreja vai tomar uma posição sobre a matéria quando julgar oportuno. Sobre a possibilidade da actual lei ser alterada na Assembleia da República, D. António Monteiro disse não acreditar porque um acto desses "seria um atentado à democracia". "As pessoas que defendem isso não são democráticas e fazem de conta que não houve referendo. Se o povo se pronunciou não há ninguém que o represente melhor que ele", frisou.

Francisco Pedro/Lusa  

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