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Público - 7 Jan 03
Dirigir Ou Gerir?
A gestão é um acto transitivo, só se pode gerir bem aquilo que se conhece, e gerir educação não é o mesmo que gerir a saúde Dizem os jornais que, na concepção do actual Ministério da Educação, "os professores deixam a gestão das escolas". A isto responde o alarme dos sindicatos, a palavra erudita dos especialistas de Educação e a opinião séria de muitos amigos meus que têm experiência do terreno. Contudo, o meu sentimento pessoal é o de que se pode tratar de uma medida positiva. Para isso precisa de ser bem explicada e de ser bem enquadrada na legislação que a promove. À partida recuso sem hesitações a ideia do secretário de Estado da Educação da Madeira quando este diz que "a função da gestão - de uma empresa, de um estabelecimento de educação ou de saúde - nada tem a ver com as áreas respectivas". Ora é exactamente o contrário: a gestão é um acto transitivo, só se pode gerir bem aquilo que se conhece, e gerir um jornal não é o mesmo que gerir uma rede de sapatarias, gerir a área dos espectáculos não é o mesmo que gerir mercearias finas, gerir educação não é o mesmo que gerir a saúde. Donde, os gestores de cada área devem especializar-se na gestão dessa precisa área. Dito isto, gostaria de salientar que no actual modelo "o verdadeiro órgão de direcção de cada escola localiza-se no seu exterior", isto é, no Ministério da Educação centralizado e desconcentrado, como sustenta Licínio Lima da Universidade do Minho. Nestas circunstâncias, o actual poder das escolas é o poder de não dirigirem nada (quem dirige é o Ministério), mas de terem o ónus da gestão. Um negócio de papalvos, diga-se de passagem: tu diriges, eu trabalho. Mas parece que gostam porque lhes dá a doce ilusão da "gestão democrática das escolas" (ó grande conquista!). Pela minha parte, gostaria de distinguir entre a direcção de uma escola (correspondendo sempre a um conselho directivo, ou executivo, eleito pelos membros dessa escola), que deveria definir as grandes orientações políticas e pedagógicas, e a gestão dessa escola. Desta vez estou de acordo com o referido secretário de Estado: "Nenhum modelo de gestão poderá colocar em causa as áreas científicas e pedagógicas, que são da responsabilidade dos docentes." Agora, ver professores a dedicar uma parte considerável do seu esforço a gerir o que não sabem gerir, porque não tiveram preparação para isso (ou, se a tiveram, teria sido melhor preparem-se noutra coisa), e a fazer intermináveis reuniões em que se discute tudo e mais alguma coisa na pura quimera de que se está a fazer democracia, quando se está apenas a perder tempo, é algo que não pode deixar de chocar quem pensa que, se esse tempo fosse dedicado à leitura, ao estudo e à actualização de cada um, seria muito mais benéfico para todos nós. É evidente que, se a direcção da escola for entregue a gestores, isso significa que se avançou para a transformação das escolas em empresas. Mas se houver efectiva descentralização, e subordinação da gestão à direcção das escolas pelos professores, a figura do gestor escolar só pode ser um benefício. |
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