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Público - 23 Jan 03
Bagão Félix Contra "Off-shore" Laboral
Por ANTÓNIO MARUJO
Ministro diz que produtividade é chave para ultrapassar problemas
O ministro do Trabalho e da Segurança Social, António Bagão Félix, defendeu
ontem, no almoço do American Club de Lisboa, a ideia da produtividade como chave
para contrariar o efeito da queda demográfica. Ao mesmo tempo, justificando as
alterações que o Código do Trabalho pretende introduzir na legislação, Bagão
Félix manifestou-se contra o que chamou de "'off-shore' laboral", uma situação
em que "só é beneficiado quem é incumpridor", seja trabalhador seja patrão.
Convidado para falar sobre "Reforma social e laboral", o ministro fez uma
intervenção que, basicamente, procurou apresentar os fundamentos das políticas
por si seguidas nestas áreas. Ideia insistente, a tentativa de compatibilizar "o
bom senso financeiro e a sensibilidade social", usando o título de um conhecido
filme. O problema é que, em Portugal, disse o ministro, existe "muita
sensibilidade social com pouco senso financeiro" e "muito bom senso financeiro
com uma granítica sensibilidade social". A tentativa de equilibrar a
realidade económica com a perspectiva social foi referida pelo ministro várias
vezes, como sendo um dos traços comuns às duas reformas - a da Segurança Social
e a do trabalho e formação profissional. A necessidade de tomar medidas que
impulsionem a mudança de comportamentos; a crise como oportunidade de mudança,
em que riscos e desafios são indissociáveis"; o desafio de "governar para as
próximas gerações" e não "para as próximas eleições" foram outros factores
apontados por Bagão Félix.
O ministro contestou o que considera uma ideia muito instalada em Portugal: a de
que "tudo se resolve, sobretudo à custa dos outros". Não, afirmou, as normas
jurídicas são importantes para resolver alguns problemas, mas "nada se resolver
se os comportamentos e as atitudes não mudarem". Também o método
"reformista, gradualista e, em alguns casos, experimentalista", foi defendido
por Bagão Félix, que criticou depois os adversários da reforma: "A visão
maniqueísta do mundo, o autismo social, o autismo dos interesses". Citando
a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos - "a medida moral da
economia e da política é a maneira como se tratam os mais pobres e os mais
desfavorecidos" - o ministro afirmou ainda que "o direito laboral é um direito
social: a pessoa é pessoa". E defendeu o método da concertação social, de
"aproximações sucessivas" e cedências mútuas, em que todos devem ter em conta "o
que é melhor para o país". Os limites da reforma, recordou Bagão Félix,
são os limites da Constituição, "que no domínio laboral está intocável desde
1976" e fala de "segurança do emprego, controlo da gestão pelos trabalhadores;
ao mesmo tempo que só fala dos trabalhadores na concertação social, ignorando os
empresários. Na reforma da Segurança Social, o ministro defendeu a partilha de
riscos e referiu-se ao programa do Presidente Lula, do Brasil, como falando do
tema "com mais naturalidade" do que em Portugal. A demografia é "o adversário do
equilíbrio da Segurança Social" - é uma "questão aritmética" - e, para enfrentar
o risco de o Estado não poder garantir o que hoje existe, Bagão Félix diz que a
solução é aumentar a produtividade. Uma questão que diz respeito não só aos
trabalhadores, mas "também aos empresários, ao Estado, à administração fiscal, á
administração pública".
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