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Público - 24 Jan 03
Manuel: Uma Fuga de Dois Dias e Um Suspeito à Solta
José Bento Amaro
A aventura de Manuel (nome fictício) teve lugar há pouco mais de dois anos e
durou pouco mais de dois dias. Terminou em bem mas, de acordo com a mãe, Maria
(outro nome que não corresponde à realidade), o caso poderia ter descambado num
pesadelo intemporal, algures num país europeu, nas mãos de uma qualquer
organização sinistra e, muito possivelmente, relacionada com prostituição ou
pedofilia.
Manuel tinha 13 anos quando, na companhia de mais quatro companheiros de escola
- dois rapazes e duas raparigas - abandonou a casa, na zona de Lisboa. Filho
único, deixou para trás a mãe, divorciada, e, durante dois
dias não deu notícias a mais ninguém. "Talvez tenha ido embora por sentir
necessidade de ter mais atenção", contou um dos familiares. Com os companheiros
de fuga, munidos de algum dinheiro e com o vestuário tido como indispensável,
andaram de camioneta até uma localidade da zona de Viseu, onde um dos elementos
do grupo tinha conhecimentos. Durante dois dias as famílias nada souberam.
Fizeram as participações (válidas apenas para quatro, uma vez que uma das
raparigas já tinha 18 anos) dos desaparecimentos na PSP e na Judiciária. "A
polícia tomou nota e fez a difusão dos elementos, mas a verdade é que parece
demorar muito tempo a agir no terreno", adiantou Maria. E sustenta esta crítica
lembrando que, "não fosse ter sido eu a descobrir, num casaco do meu filho, um
mapa da Península Ibérica, com um círculo à volta de Madrid, e talvez não fosse
possível tê-los encontrado".
Maria e os restantes pais rumaram então a Madrid. Ai constataram que os pedidos
das autoridades portuguesas já haviam chegado à polícia local. Falhadas todas as
buscas na capital espanhola, foram então alertados telefonicamente de que,
próximo de uma localidade fronteiriça portuguesa, havia sido avistado um grupo
de cinco jovens desconhecidos.
"Foi a GNR que os foi buscar. Estavam numa casa, fechados à chave e, conforme
soubemos depois, prestes a ser embarcados [supostamente num camião] para outro
país [que aqui se omite, uma vez que persistem investigações policiais onde o
dono da casa, um português, é suspeito]", contou Maria.
O caso de Manuel e dos quatro amigos (alguns deles chegaram a argumentar que
pretendiam ir para a Suiça, onde iriam trabalhar numa empresa do sector
hoteleiro) terminou em bem. "Outros há, não sei quantos, bem mais
dramáticos, com crianças desaparecidas há muito", diz Maria, ainda hoje
contactada por alguns pais que, na ânsia de obterem pistas dos filhos
desaparecidos, recorrem à internet, onde são cada vez mais frequentes os apelos
e pedidos de informação. Resta acrescentar que o tal homem que fechara o grupo
em sua casa continua hoje em liberdade, desconhecendo-se quais as suas eventuais
ligações a redes criminosas.
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