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Correio da Manhã - 14 Jan 03
TER MUITOS FILHOS FOI PROJECTO DE VIDA
Catarina guerreiro
Maria do Rosário Carneiro, deputada independente do PS, e
Roberto Carneiro, ex-ministro da Educação, têm nove filhos, hoje entre os 28 e
os 13 anos de idade.
Correio da Manhã - Os seus nove filhos foram todos planeados?
Maria do Rosário Carneiro - Foram todos desejados. Eu e o meu marido
tínhamos como projecto de vida ter uma família grande.
- E planeou sempre muito bem a chegada de cada um dos filhos?
- Apenas nos preocupámos em dar um intervalo entre eles para eu poder recuperar
e dar atenção suficiente ao bebé. Houve, de facto, um planeamento e uma
organização para ter gravidezes espaçadas.
- E qual é o intervalo que os seus filhos têm uns dos outros?
- Têm um ano e meio de intervalo, mais ou menos.
- Então nenhum deles foi um acaso, mesmo que desejado?
- Acho que não. Diria que era um acaso se algum deles tivesse nascido num
intervalo de nove meses.
- A sua família é uma excepção na sociedade actual, em que os casais não
querem muitos filhos. Tem pena?
- É um empobrecimento total para a sociedade. Ao não se ter filhos está-se a
reduzir parte do capital humano que é necessário para a continuidade da
humanidade. E, aqui, não há substitutos.
- Acha que os casais fazem bem em planear cada vez mais o nascimento dos seus
filhos?
- Planear os filhos é importante, mas hoje acho que se está a cair no exagero. É
importante espaçar os nascimentos, e fazer projectos quanto ao filhos, mas não
em excesso.
- Na sua opinião, esse excesso está relacionado com a ideia de planeamento
familiar?
- O planeamento familiar aparece hoje ligado apenas à contracepção, o que é
errado. O planeamento familiar serve para quem quer ter filhos, de forma a que
nasçam nas melhores condições para a mãe e para o filho, mas também serve para
quem não pode. O planeamento existe também para combater a infertilidade.
- Quando teve o seu primeiro filho não existiam consultas de planeamento
familiar. Fez-lhe falta?
- Não senti falta. Sabia controlar a minha fertilidade.
- Mas acha que o planeamento é importante para os jovens de hoje?
- Muito importante. A sociedade mudou tanto que tem de existir informação que
elucide as pessoas para evitar situações como as gravidezes na adolescência e a
propagação alarmante da sida. As respostas da sociedade têm de ser adequadas aos
momentos.
- Sentiu diferenças quando teve o primeiro e o último filho?
- Muitas. No último, aos 40 anos, estava mais velha e mais cansada.
- Como é que é ter nove filhos em casa?
- É uma questão de organização. Há coisas que são simplificadas e outras em que
é necessário maior rigor. Não há receitas nem formas mágicas.
- Mas às vezes deve ser difícil...
-Há momentos complicados. Quando o nosso filho mais novo, o António, foi para a
escola tivemos de fazer contas. E alguns dos nossos filhos passaram do ensino
particular para o social. Mas tudo se resolve.
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