Público - 29 Jan 03
Mais de Metade dos Alunos do Secundário Sem Rendimento Escolar
Por MÁRIO BARROS
Números divulgados por Joaquim Azevedo
Cursos tecnológicos são os que registam maiores níveis de insucesso
Apenas 24 em cada 100 alunos dos cursos tecnológicos completam em três anos a
sua formação no ensino secundário. A percentagem sobe para 44 por cento quando
se trata de cursos gerais e para 66 nos profissionais. Esta é uma das conclusões
centrais de uma investigação feita por Joaquim Azevedo, do conselho de
administração da Associação Empresarial de Portugal, que ontem foi apresentada
na Exponor.
Na origem desta situação está a "falta de rendimento escolar e uma grande margem
de ineficiência no desempenho das escolas", explica o antigo secretário de
Estado dos ensinos básico e secundário nos governos de Cavaco Silva.
O trabalho, cujos resultados foram agora divulgados durante um seminário sobre
empresas e ensino profissional, analisou um universo de 10 mil alunos dos cursos
secundários e 2700 dos profissionais, que frequentaram os estabelecimentos de
ensino (37 secundários e outros tantos profissionais), entre 1997 e 2000 e 1998
e 2001.
O fraco rendimento das escolas é explicado - segundo opiniões recolhidas junto
dos próprios directores - pela má preparação dos alunos à entrada do secundário,
pela população escolar cujo nível cultural é relativamente baixo e pelas fracas
perspectivas de "mobilidade social ascendente" por parte dos próprios
estudantes. "Por isso, as famílias investem pouco na escolarização e os alunos
andam na escola a matar o tempo."
Na visão de Joaquim Azevedo, um dos caminhos para solucionar este fraco panorama
escolar pode ser a mudança dos modelos de certificação nas escolas secundárias,
que considera "desajustados". Tomando como exemplo os cursos
tecnológicos, o ex-secretário de Estado defende que os alunos que queiram
ingressar no mercado de trabalho o possam fazer, com a formação técnica
completa; no caso de pretenderem seguir para o ensino superior, deverão
precisar, além do curso completo, de ser submetidos aos exames das disciplinas
específicas exigidas pelas universidades e politécnicos.
No caso das escolas profissionais, o cenário deveria ser melhorado com a
abertura de mais lugares por parte do Estado, uma vez que "há indicadores que
dizem que 45 por cento dos candidatos não entram por falta de vagas". Na opinião
de Azevedo, o "numerus clausus" destes estabelecimentos de ensino "é muito mais
grave do que no ensino superior, porque aí o número de vagas já é superior ao de
candidatos". A questão neste caso, defende, está mesmo em "abrir mais lugares,
porque a procura social existe".
E quem está a entrar? "Os alunos mais novos, com melhores notas - o que é, mais
uma vez, dar privilégios à classe média e às classes com maior poder de compra e
nível cultural, estando a expulsar as populações com um nível inferior", disse
ainda.
À espera de um iluminado
As alterações propostas não são uma reforma, sublinha Joaquim Azevedo, mas sim a
resolução de problemas reais. Isto porque a detecção das dificuldades dos cursos
tecnológicos já foi feita em 1995/96, o ano lectivo em que acabou a
generalização dos novos currículos nas escolas. "Começaram, então, a perceber-se
os problemas, mas nenhuma medida foi tomada sobre o nível secundário desde 1993.
Fala-se muito em revisão curricular, mas ainda nada foi feito. Num sistema tão
gigantesco como é o educativo, havendo inacção perante problemas, a situação
degrada-se."
Por causa desta "inacção" é que "milhares de jovens estão a ser altamente
prejudicados todos os anos". Mas as coisas "vão sendo adiadas até que apareça o
iluminado com a grande reforma, nem que seja com esta suspensa e
venha outra para 2005, 2008 ou 2010". Por isso é que os cursos tecnológicos "têm
vindo a degradar-se e o número de alunos a decrescer".
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