Diário de Notícias - 20 Jan 07

 

Petição para libertar o pai adoptivo já é um "movimento nacional"

Rute Araújo

Quando Fernando Silva decidiu entregar um pedido de habeas corpus, para pedir a libertação de Luís Gomes, nunca imaginou que estava a criar "um movimento nacional", com ramificações nas comunidades portuguesas por todo o mundo, dos Estados Unidos a Macau. O fax no escritório do professor de Direito Penal não pára. As declarações chegam ao minuto, entopem a linha telefónica e enchem a caixa de mensagens electrónicas. Os subscritores não querem só assinar a petição, escrevem testemunhos, textos de protesto, declarações de apoio ao homem que quis adoptar uma criança e acabou condenado a seis anos de prisão.

"Não consigo responder às pessoas. Neste momento, a dificuldade é conseguir que a petição integre toda a gente que quer aderir", diz. Quantos subscritores? Fernando Silva já não arrisca números, há muitos mails que lhes perdeu a conta. Está "arrepiado" com a dimensão que a iniciativa tomou. "Não há escritório de advogados que não tenha manifestado a sua solidariedade." A lista de notáveis que decidiram subscrever a petição também já vai longa. A provedora da Casa Pia Catalina Pestana, o procurador Maia Neto, as escritoras Lídia Jorge e Inês Pedrosa... Maria Barroso foi a primeira a assinar, ontem logo pela manhã. "Custa-me a acreditar que há uma sentença de seis anos de prisão para uma pessoa cujo único crime foi amar uma criança e e recebê-la quando ninguém a queria. Há pessoas que maltratam crianças e são condenadas a cinco anos. Fico estupefacta", diz Maria Barroso. A ex- -presidente da Cruz Vermelha não poupa adjectivos para falar nesta decisão "injusta e brutal".

Ontem, as redacções dos jornais e das televisões foram inundadas de pedidos de informação de pessoas que queriam aderir ao pedido de habeas corpus - medida excepcional que visa libertação de um cidadão detido ou preso ilegalmente. Mas a iniciativa não é caso único.

No Estabelecimento Prisional Militar, em Tomar, onde Luís Gomes está detido, as manifestações de solidariedade também não cessam de chegar. Carlos Faria, director do estabelecimento, não consegue fazer as contas de cabeça. São muitos telefonemas, muitos papéis deixados na portaria para serem entregues a Luís Gomes. E muitos anónimos que o tentam visitar, que pedem para falar com ele. "Durante esta semana, de dia para dia, têm sido cada vez mais. Nós transmitimos todas as mensagens", acrescenta.

A população de Cernache, a terra do pai biológico, está também a promover um abaixo-assinado. Só numa hora, foram recolhidas 50 assinaturas. O objectivo é o mesmo. Tirar Luís Gomes da prisão.