Diário de Notícias - 23 Jan 09

 

Malparado das famílias acima de 3 mil milhões
Paula Cordeiro

 

Evolução do crédito. De mês para mês, agrava-se a situação de muitas famílias no cumprimento das suas obrigações perante a banca. O malparado aumenta substancialmente nos empréstimos à habitação

 

Dívidas da habitação crescem 25% até Novembro

 

As dívidas dos particulares à banca avolumam-se de mês para mês, tendo já ultrapassado os três mil milhões de euros, em Novembro último. No crédito à habitação, os empréstimos em cobrança duvidosa aumentaram 25% face a igual mês de 2007 e no crédito ao consumo o volume em dívida cresceu 50% no mesmo período, de acordo com o Boletim Estatístico de Janeiro do Banco de Portugal, ontem divulgado.

 

O crédito malparado existente nos bancos a operar em Portugal, proveniente de empréstimos a particulares, continua a crescer a ritmos elevados, numa altura em que a concessão de crédito dá mostras de franco abrandamento. Sinais de uma crise definitivamente instalada no seio de muitas famílias.

 

Até Novembro, o total de crédito concedido aos particulares tinha crescido 4,4%, face ao mesmo período do ano anterior, atingindo do 132,8 mil milhões de euros. Mas, enquanto o saldo crescia a este valor, os montantes de cobrança duvidosa disparavam 28,2%, ultrapassando pela primeira vez os três mil milhões de euros.

 

Face ao volume total, o rácio de incumprimento é agora de 2,2%, um aumento de 22% face ao mesmo rácio de Novembro de 2007, que era de 1,8%.

 

Na habitação, o crédito em dívida atinge níveis preocupantes, especialmente tendo em conta que se tratam de créditos hipotecários, ou seja, em caso de incumprimento prolongado é a própria habitação que é perdida.

 

Num cenário de abrandamento na concessão de empréstimos - crédito à habitação cresceu 4,1% até Novembro, em termos homólogos, atingindo os 105 mil milhões de euros - os montantes de cobrança duvidosa cresceram 24,8%, no período em análise, somando 1,6 mil milhões de euros. Com este aumento, o rácio de malparado passou de 1,2% em Novembro de 2007, para 1,5% em igual mês do ano passado, um aumento de 25%.

 

Nos empréstimos destinados a financiar o consumo, os montantes em dívida já representavam, no mês em análise, 5,2 % do total concedido para este efeito. Há um ano, o mesmo rácio era de 3,9%, traduzindo-se assim num aumento de 33%.

 

Embora mantendo taxas de crescimento mais elevadas, os empréstimos à compra de automóveis, bens para o lar ou mesmo viagens apresentam algum abrandamento na sua evolução, crescendo 12,8% até Novembro, para os 15,2 mil milhões de euros. Já os montantes em situação de incumprimento dispararam, em termos absolutos, 49,3%, somando quase 800 milhões de euros em dívidas.

 

Dívidas de empresas disparam

 

No que respeita ao crédito concedido pela banca às empresas a operar em Portugal, verifica-se um aumento de 10,8% até Novembro, com estes empréstimos a totalizar 111,5 mil milhões de euros.

 

No entanto, também as empresas apresentam maiores dificuldades no cumprimento das suas responsabilidades de crédito perante a banca. Até Novembro, o total de cobrança duvidosa já somava 2,6 mil milhões de euros, mais 56,2% que em igual mês do ano passado. E este aumento levou a uma deterioração do rácio relativamente ao total concedido, passando de 1,7% em 2007, para 2,3% em Novembro do ano passado, mais 35,2%.