Diário de Notícias -
25 Jul
08
Mãe recupera filha roubada para adopção
Susana Salvador
Guatemala. Depois de mais de um ano à procura da sua
bebé, Ana Escobar encontrou-a nos braços de uma
norte-americana, prestes a ser adoptada. Graças aos
testes de ADN conseguiu provar a verdade, o primeiro
caso num país que está a rever as suas leis e já
deixou de ser o paraíso para as adopções
Ana Escobar costumava percorrer os orfanatos da
Guatemala na esperança de encontrar a filha, Esther,
raptada aos seis meses de idade quando ela estava
sob a ameaça de uma arma. Já tinha passado mais de
um ano desde esse dia 26 de Março de 2007 e a jovem
estava convencida que a filha entrara no circuito da
adopção internacional. Tinha razão. Em Maio,
reconheceu Esther na menina que dormia ao colo de
uma norte-americana nos escritórios do Conselho
Nacional de Adopções (CNA). Os teste de ADN provaram
que tinha razão.
"Não sei como expressar a emoção que sinto, a minha
alegria. É um milagre de Deus", disse Ana às
agências de notícias internacionais. "É a primeira
vez que se consegue demonstrar com provas
irrefutáveis que uma criança roubada entrou no
sistema de adopções", contou Jaime Tecu, um dos
responsáveis do CNA, que face à insistência da jovem
de 27 anos tinha autorizado a realização de uma nova
prova de ADN. É que a menina tinha todos os
documentos em ordem - estes vieram contudo a
revelar-se falsos. A Guatemala foi, em 2007, o
segundo principal "fornecedor" de crianças para
adopção nos EUA.
Esther foi raptada da pequena sapataria que a mãe e
o pai tinham num bairro do norte da capital da
Guatemala. Dois homens entraram na loja e um deles
pediu que Ana lhe entregasse tudo o que tinha,
obrigando-a a entrar num pequeno armazém. "Tentei
resistir, mas ele mostrou-me uma arma e disse que eu
tinha que fazer tudo o que ele quisesse ou
matava-me", lembrou numa entrevista à BBC.
O outro homem levou a bebé, enquanto a jovem foi
trancada no armazém. Quando conseguiu sair, já não
havia vestígio de Esther. "Fui ao carrinho e a bebé
não estava lá", disse. A polícia não a conseguiu
ajudar e só mais tarde Ana foi encaminhada para uma
organização que lhe deu apoio psicológico e a ajudou
a procurar a filha. Pelo meio, a jovem chegou a
fazer greve de fome com outras duas mães para
alertar para o problema.
Desde então, e enquanto aguardava os resultados do
teste, a jovem foi autorizada a cuidar da menina.
Agora pode respirar de alívio. Entretanto, as
autoridades abriram um processo contra o advogado
que estava a tratar da adopção, bem como do médico
que assinou o falso teste de ADN.