Público - 30 de Junho
Demógrafa Recomenda Cautela na Leitura dos Resultados
Primeiro, as boas notícias: o aumento dos nascimentos nestes últimos cinco anos é inegável. Mas o que é que isso significa? Talvez mesmo muito pouco. É por isso que a demógrafa Maria João Valente Rosa recomenda toda a cautela na leitura dos números. "Os dados podem não traduzir um aumento de fecundidade e não traduzem por certo uma situação em que estejamos a caminhar para a substituição de gerações. Ela não está minimamente garantida. Mesmo que haja um ligeiro aumento da fecundidade, não vamos voltar a ter descendências numerosas como tínhamos no passado. Não há razão para descansarmos".
O que acontece, explica, é que "estamos a passar neste momento por uma conjuntura muito especial", que tem a ver com o seguinte: "Houve um retardar do projecto de maternidade e essa geração que tem filhos cada vez mais tarde está neste momento a chegar à idade em que planeou tê-los". Por outro lado, houve um "boom" de nascimentos em meados dos anos 70; os filhos deste "boom", que são mais numerosos, entraram agora na plena idade da maternidade (e mesmo assim relativamente tardia) - há mais nascimentos porque também há mais gente com capacidade para ter filhos.
Além disso, diz ainda Maria João Valente Rosa, houve uma altura, há uns anos, em que se assistiu a "uma quebra demasiado brusca" dos nascimentos, porque se tratou de uma fase de transição entre dois modelos de fecundidade - o dos que tinham filhos mais cedo e o da tardia. Na passagem de um para o outro, as mulheres da fecundidade precoce já tinham tido os filhos e as outras ainda não os tinham. Esta é agora a fase da estabilização do segundo modelo.
B.S.
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