Público - 5 de Maio
Americanas Deixam Carreira para Ficar em Casa
Condições de trabalho em questão
Número de profissionais que abandona o trabalho para ficar com os filhos
aumenta desde os últimos 30 anos
Na passada semana, Kharen Hughes, de 45 anos, uma das conselheiras mais
próximas do presidente norte-americano George W. Bush, surpreendeu
Washington ao anunciar que vai abandonar a Casa Branca. Um mês antes, a
governadora do Massachusetts Jane Swift, de 37 anos, renunciava a uma
segunda candidatura à frente dos destinos do Estado. O motivo invocado
pelas duas mulheres foi o mesmo: dedicar-se à família.
Kharen Hughes e Jane Swift são cada vez menos casos isolados na sociedade
norte-americana, que assiste a um recuo na tendência da mulher
trabalhadora. "Esta escolha acontece todos os dias entre as
norte-americanas com níveis altos de escolaridade", afirma Ann Crittenden,
autora do livro "O Preço da Maternidade: porque é o trabalho mais
importante do mundo o menos valorizado?". "O problema são as condições de
trabalho da maioria das mulheres. É quase impossível ter um emprego de
responsabilidade, bem pago e ter tempo para a família", resume.
As mais recentes estatísticas oficiais mostram que, pela primeira vez em
30 anos, diminuiu a percentagem de mulheres trabalhadoras com filhos de
menos de um ano. Este número atingiu um recorde de 59 por cento em 1998
passando para 55 por cento em 2000, o primeiro declínio significativo
desde 1976.
A opção da família é, por motivos óbvios, sobretudo visível entre a classe
com mais recursos económicos e escolaridade: são as mulheres brancas, com
mais de 30 anos, que vivem maritalmente e têm pelo menos um ano de
educação universitária.
Ao mesmo tempo, um número crescente de mulheres norte-americanas opta por
não ter filhos, uma tendência que os especialistas atribuem a condições de
trabalho cada vez mais inflexíveis, mas também a uma atitude optimista de
conseguir uma gravidez em idade tardia.
Numa obra publicada recentemente, "Criar a Vida: as mulheres que trabalham
e o desejo de crianças", Sylvia Ann Hewlitt evoca uma "epidemia de falta
de filhos" entre as 1647 mulheres [inquiridas] que conseguiram ter uma
carreira".
Entre elas, 42 por cento não tinham filhos aos 40 anos, não por uma
consciente decisão pessoal, mas simplesmente porque estavam demasiado
concentradas na sua carreira.
Os dados oficiais confirmam este inquérito: entre 1980 e 2000, o número de
mulheres entre os 40 e os 44 anos sem filhos duplicou, representando agora
uma em cada cinco norte-americanas.
"Enquanto sociedade, temos uma real necessidade de encontrar formas de
estruturar o trabalho", diz Diane Halpern, directora do Instituto Berger
para o Trabalho, a Família e as Crianças da Universidade McKenna na
Califórnia. "Homens e mulheres precisam de um ambiente [de trabalho]
favorável à paternidade", como o teletrabalho, o "part-time" de qualidade,
o trabalho partilhado, acrescenta.
Para a responsável não há dúvida que as empresas têm oferecido resistência
a este ambiente, como forma de reduzir os custos. Mas a longo prazo este é
um investimento seguro: reduz o absentismo, aumenta a motivação e a
rotação excessiva de empregos, conclui.
Reuters
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