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Diário de Notícias - 5 Maio 03
Educação regista o maior aumento de faltas ao trabalho
CÉU NEVES
O sector da educação registou o maior aumento de faltas ao trabalho, de 5,4% em
1999 para 7,2% em 2000. Muitas devem-se à formação profissional, mas a baixa por
doença, 51,% das ausências, é superior à média nacional, 47,7%. Na indústria
extractiva e na saúde há mais greves. Os trabalhadores das finanças são os que
faltam menos, ao contrário dos da indústria transformadora, que são os mais
absentistas.
Os dados do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, a que o DN teve
acesso, indicam que em 2000 os profissionais da educação faltaram mais de duas
horas por cem em relação a 1999, facto que Paulo Sucena, secretário-geral da
Federação Nacional de Professores (FENPROF), não consegue explicar. Mas uma das
hipóteses poderá ser a possibilidade dada aos professores do ensino básico e
educadores de infância com bacharelato de fazerem mais um ano de ensino para
obterem a licenciatura. Com efeito, este é um dos sectores com mais horas
dedicadas à formação profissional, a par do das finanças. As ausências por
doença também pesam bastante no sector da educação, ultrapassando a percentagem
da generalidade da população, 47,7%, quase menos cinco pontos percentuais do que
em 1996. Por outro lado, aumentaram as ausências «por inactividade temporária»,
como a formação profissional e o descanso suplementar.
Em 2000, as pessoas da banca e dos seguros trabalham mais três horas em cem que
a generalidade da população activa e mais cinco (4,2 contra 9,4) que os
operários da indústria transformadora. A taxa de absentismo manteve-se igual à
de 1999 (7,6%), mais 0,3% do que em 1966.
São os sectores primário (agricultura e pescas) e secundário (indústrias) a
registarem mais faltas ao trabalho, sobretudo as actividades transformadoras.
Este facto não causa surpresa a Carlos Trindade, da CGTP, que explica: «Nas
indústrias transformadoras (têxtil, conservas) mais intensos, uma laboração mais
exigente e a carga física e psicológica sobre cada trabalhador é muito maior. A
área das finanças, embora tendo uma grande exigência, não tem comparação a nível
da dureza de trabalho, para além das condições laborais serem muito melhores».
O sindicalista não tem dúvidas de que «o absentismo é produto de ritmos de
trabalho excessivos, com horários intensivos e de grande exigência psicológica».
E dá o exemplo da sua empresa, a Climex, que faz limpezas industrias,
nomeadamente nos aeroportos. Tem um regime laboral intensivo, com os
funcionários a trabalharem seis dias e a descansarem dois, facto que os
trabalhadores da unidade de Carlos Trindade contestaram.
Depois de 60 dias de greve distribuídos por dois anos, conseguiram que o sistema
fosse alterado para quatro dias de trabalho e dois de descanso, sendo o horário
semanal reduzido para 38 horas. Ao fim de um ano e meio, o patronato decidiu
alargar o sistema a outras áreas em Lisboa e no Porto. Os trabalhadores passaram
a faltar menos e, entre outros benefícios, fez com que reduzissem o número de
contratados a prazo.
O recurso à greve não é prática muito usada em Portugal, constituindo apenas
2,4% dos motivos de ausência ao trabalho. São os trabalhadores da indústria
extractiva (24,9%) e da saúde e acção social (7,8%) que mais contribuem para
esta taxa.
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