Diário de Notícias - 12 Mai 08

 

Banco de leite materno para bebés prematuros
Carla Aguiar

 

Aumento dos prematuros pode gerar crise de falta de especialistas

 

O primeiro banco de leite materno do país deverá abrir ainda este ano ou, o mais tardar em 2009, na Maternidade Alfredo da Costa. O projecto visa permitir a doação por parte das mulheres com excesso de leite para suprir as carências de bebés que não podem ser alimentados pelas suas mães. Nesta situação estão os filhos de mães infectadas com HIV, tuberculose ou hepatites. Mas também bebés prematuros, que estão entre os principais destinatários.

 

Há ainda os casos de mães em tratamento, que faleceram na sequência do parto ou que abandonaram os seus bebés. Tanto numa situação em que a mãe produz excesso de leite como naquelas em que o bebé deixa de mamar, "em vez de as mães secarem o seu leite, é um acto de civismo oferecê-lo a outros bebés", considera o director da Maternidade Alfredo da Costa, Jorge Branco.

 

O objectivo do banco de leite materno é, numa primeira fase, fornecer leite às crianças da maternidade, com o plano de estender, mais tarde, o fornecimento a outros hospitais.

 

Em declarações ao DN, Jorge Branco estimou que o investimento necessário para colocar a ideia em prática será da ordem dos 30 a 40 mil euros. A prática habitual para os prematuros consiste em congelar o leite da mãe até 15 dias num congelador normal ou numa arca a menos de 20 graus até aos três meses. O futuro banco permitirá a conservação mais adequada através da pasteurização e armazenamento em vácuo durante um máximo de seis meses.

 

A selecção das doadoras terá de ser criteriosa de modo a evitar contágio de doenças. Quanto ao fornecimento, é necessária a autorização da mãe biológica.

 

O aumento do número de prematuros, que cresceu 0,5% nos últimos anos, poderá começar a ser preocupante, se não se reforçar o número de neonatologistas e de pessoal médico e de enfermagem especializado neste tipo de crianças, disse Jorge Branco ao DN. "Se o número de nascimentos prematuros continuar a crescer assim poderá verificar-se uma situação preocupante, pois estes casos requerem um maior envolvimento médico, maiores despesas hospitalares e esta é uma especialidade em que não existem muitos médicos", disse. A agravar a situação, também as maternidades são atingidas pela saída de clínicos para o sector privado.