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Diário de Notícias - 31 Mar 03
Portugueses vão poder adoptar até aos 60 anos
CADI FERNANDES
Aumentar o limite etário máximo de candidatos à adopção de crianças para os 60
anos é uma das principais propostas contidas do documento que hoje será entregue
aos ministra da Justiça e da Segurança Social, Celeste Cardona e Bagão Félix,
pela Comissão Interdepartamental para a Adopção, disse ao DN o seu presidente,
Luís Villas-Boas.
O objectivo desta proposta de alteração legislativa é que os potenciais
candidatos com idades mais avançadas, entre os 45 e os 60 anos, mas, mesmo
assim, dispostos a dar uma família a quem dela precisa, possam adoptar crianças
dos quatro aos 15 anos.
Num país onde, em matéria de adopção, vigora a «cultura do depósito», segundo
Villas-Boas, o que justificará, de alguma forma, a existência de 16 mil crianças
em situação institucionalizada, o ideal seria «dar a cada uma um projecto de
vida». Por isso mesmo, preconiza-se a diminuição do tempo de avaliação do tempo
de candidaturas, passando-se dos actuais seis meses para quatro. A pré-adopção
também deve respeitar um período inferior a seis meses. Na senda da celeridade,
o consentimento para adopção passará a ser encurtado, caso a proposta seja
aceite: actualmente é de seis semanas mais dois meses e, no futuro,
eliminar-se-á estes dois meses, «respeitando-se absolutamente as seis semanas».
Fundamental nesta perspectiva de celeridade na adopção será homogeneizar os
procedimentos em todo o País. Para isso, urge ser feito «um levantamento ao
nível nacional de todas as crianças susceptíveis de serem adoptadas, pois não
pode continuar a haver menores internados em instituições à revelia da lei».
Isto é, «os tribunais têm de saber onde estão todas essas crianças. Não podem
existir meninos escondidos. Nesse sentido, entendo que é necessário haver uma
revolução cultural no nosso país, para se inverter a ideia dominante de que as
crianças devem ficar entregues a instituições». Tanto mais que, ao contrário do
que seria desejável, nem todas têm condições pediátricas para, por exemplo,
acolher bebés abandonados, que, por isso, acabam por ficar nos hospitais.
Dotar as instituições de acolhimento de pessoal técnico competente em
permanência, incluindo, obrigatoriamente, os fins-de-semana, é outra premissa
fundamental. «Não pode haver "pontes" neste acompanhamento dos menores. Sábados
e domingos devem ser dias iguais aos outros.»
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