Correio do Minho - 12 Mar 03

Faltam nascimentos e sobram divórcios em Portugal
A diminuição da natalidade em Portugal é uma das questões que está a merecer a atenção da Coordenadora Nacional para os Assuntos da Família,
Margarida Neto, que ontem tomou contacto com o trabalho da Associação Famílias, sediada em Braga.

 

Teresa Marques Costa

Braga continua a figurar entre os distritos com a taxa de natalidade mais elevada, mas a realidade do país é outra e a Coordenadora Nacional para os Assuntos da Família mostrou-se ontem preocupada com o que constituir um grave problema no futuro.
Margarida Neto, que ontem realizou uma visita de trabalho à Associação Famílias, estabelece uma correlação entre a diminuição da natalidade e a descrença na instituição “família”.

Em matéria de natalidade, o Estado pode até aumentar as creches ou adoptar outras medidas políticas, mas “é uma questão cultural”. Neste contexto, “é fundamental a mentalidade, a disponibilidade para ter filhos” realçou, apontando o descrédito no futuro dos filhos como factor inibidor.
A preocupação com a baixa de natalidade “não significa que o Governo vá entrar numa política natalista”, salvaguarda Margarida Neto, que sustenta, no entanto, que “tem que haver uma política de valorização da família”.

Contrariando algumas das críticas feitas ao Código Laboral, a coordenadora para os Assuntos da Família garante que a revisão da legislação laboral “não é contra a família”.
A título de exemplo, aponta os cinco dias de licença de paternidade, que já vêm de trás, mas ficaram por regulamentar. Por outro lado, o Código Laboral consagra quatro horas, por cada filho e por trimestre, para os pais se deslocarem à escola.
Margarida Neto defende ainda que a flexibilidade não é contra a família.

O Código Laboral exemplifica o que pode ser o papel do Estado, mas “há uma parte de cidadania” entende aquela responsável, que sublinha que “os patrões também têm que saber valorizar a família”.
A criação de uma creche na empresa é uma das medidas que podem implementar.
Margarida Neto criticou ainda a banalização do divórcio, dando conta da elevada taxa de divórcios em Portugal.
“Já não se acredita no casamento” afirmou, lembrando que “ser família monoparental é complicado”, já que normalmente a mulher fica encarregue dos filhos, o que pode trzer mais solidão, mais pobreza e mais exclusão.

Esta responsável apelou à Associação Famílias, que pretende avançar com um Gabinete de Mediação Familiar, no sentido de apoiar o casal em ruptura e de congregar esforços para ajudar à comunicação entre o casal.
“É sempre pena que estes gabinetes estejam demasiadamente focalizados no divórcio”.

A coordenadora nacional admite que as políticas de família acabaram por virar-se para a infância ou para a terceira idade, face à maneira de viver individual.
Com 2004 no horizonte como Ano Internacional da Família (+10 já que o último foi assinalado em 1994), Margarida Neto anuncia actividades para o ano que vem e já para o próximo dia 15 de Maio, dedicado internacionalmente à família.

Projectos

A Coordenadora Nacional para os Assuntos da Família deslocou-se
ontem a Braga em resposta a um pedido de audiência da Associação Famílias.
Margarida Neto, médica de formação, explica que “é importante conhecer no terreno”, já que “as conversas de gabinete não revelam tudo”.
A coordenadora nacional ficou a conhecer os projectos da Associação Famílias para este ano e levou também alguns pedidos, sobretudo de apoio.

A Associação Famílias quer avançar com obras na sua sede na Rua de Guadalupe, com vista à criação de um centro comunitário com valências para respostas sociais na área da família.
Carlos Aguiar, presidente da Associação, revelou a criação de uma creche/ATL como outra aposta para ajudar a esbater as listas de espera das instituições.

Em estudo está o projecto para um Centro Integrado para Questões de Família, que prevê a vertente de casa-abrigo para vítimas de violência doméstica, refúgio para grávidas em situação de risco e um gabinete de terapia familiar.
O projecto Pára-Choques terá continuidade numa equipe móvel de apoio à família.
A Associação Famílias avança também com a formação à Mediação Familiar, em colaboração com o Instituto Português de Mediação Familiar. As grandes dificuldades são mesmo o espaço e a falta de recursos financeiros, a que se soma a carência de voluntários.

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