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Diário de Notícias - 29 Mar 03
Progressos na gestão da Segurança Social
Miguel Gouveia
As notícias recentes de que o Governo terá conseguido unificar o sistema de
informação da Segurança Social e de que este passará a funcionar a nível
nacional merecem um comentário.
Os desenvolvimentos nas políticas de Segurança Social têm sido acompanhados
pelos media, que naturalmente têm dado relevo às questões mais polémicas.
Como sempre acontece nestas coisas tem sido dada uma atenção muito menor
às questões relacionadas com a eficácia dos seus
mecanismos de funcionamento. No entanto, a prazo, se o
aparelho da Segurança Social funcionar de forma
deficiente, não haverá opções ideológicas ou retórica política que possam
compensar um sistema avariado.
O problema é que durante muito tempo o comportamento típico dos responsáveis
governamentais nestas áreas foi privilegiar a retórica e descurar a
gestão da máquina.
Os resultados de tal má gestão não são acontecimentos mediáticos. A má
gestão resulta numa erosão lenta e cancerosa do sistema que incapacita a
Segurança Social de funcionar e cumprir as suas funções de recolha
atempada de fundos, de distribuição acertada de
prestações e de execução e monitorização das actividades
de assistência que são sua responsabilidade.
O estado da administração do sistema é, a muitos títulos, lamentável. Por
exemplo, a Segurança Social não tem um gabinete de actuariado. Isto é
tremendamente absurdo: é o mesmo que não haver juristas no Ministério da
Justiça! Por outro lado, a Segurança Social foi uma das áreas que os
governos anteriores mais usaram para distribuir empregos na função
pública...
Mas o mais grave, é o estado quase caótico do sistema de informação da
Segurança Social, particularmente no que diz respeito aos trabalhadores
activos e às suas entidades patronais.
Até agora cada distrito tinha equipamentos informáticos incompatíveis com os
dos outros distritos, impossibilitando a gestão nacional do sistema. Os
sistemas distritais funcionavam muito mal, em termos de segurança dos
processos, fornecimento atempado de informação, capacidade para detectar
e antecipar problemas de incumprimento e para prevenir e
identificar fraude.
Mas essas deficiências significavam capacidade de interferência
discricionária para alguns... Os governos anteriores gastaram muito
dinheiro no problema, sem que se vissem resultados
palpáveis, numa demonstração grave de incompetência
política e de incapacidade de fazer o bem-estar nacional
sobrepor-se aos pequenos interesses e barreiras burocráticos.
O Governo actual teve uma tarefa difícil. Começou por demitir os
responsáveis regionais, numa medida necessária para desbloquear o sistema
mas que foi recebida com incompreensão.
Os resultados vêem-se agora: finalmente, após tantos anos e tantos milhões
de contos, a Segurança Social tem finalmente o tão crucial sistema
nacional de informação. É um passo muito positivo, que já
devia ter sido dado há muitos anos.
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