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Portugal Diário - 19 Mar 03
Portugueses sem tempo para os filhos
PD
Os pais portugueses lamentam-se muito da falta de tempo para os filhos, mas
estão hoje muito mais presentes na educação das crianças
Os pais portugueses lamentam-se muito da falta de tempo para os filhos, mas
estão hoje muito mais presentes na educação das crianças. Mudam fraldas, dão a
comida e o banho, e até os levam ao médico se for preciso.
Segundo um estudo desenvolvido pela especialista em psicologia educacional,
Leonor Balancho, e recentemente publicado em livro - «Ser Pai, Hoje», pela
Editorial Presença - os pais portugueses tornaram-se mais intervenientes na vida
dos filhos, revelam as suas emoções e são comunicativos.
Em conclusão, o pai português deixou de ser a figura distante e autoritária da
família, que estava ausente para sustentar o lar, e que só intervinha quando as
situações se tornavam «realmente complicadas».
Em 111 páginas, Leonor Balancho descreve esta mudança na forma como os
portugueses exercem a paternidade, fruto de uma tese de mestrado da
investigadora sobre a evolução do papel do pai na sociedade portuguesa.
Realizada com base em diversas entrevistas a três gerações dentro das mesmas
famílias - filhos, pais e avós, a especialista em psicologia educacional
descobriu que o pai português «renasceu, reconstruiu-se e repensou-se», como
declarou à Agência Lusa.
«Já é comum os pais darem o biberão, deitarem as crianças e contarem histórias»,
caracteriza a autora, sobre o novo perfil do pai na sociedade portuguesa.
Curiosamente, de acordo com Leonor Balancho, que sublinha a base científica do
trabalho realizado, as grandes mudanças no papel do pai ocorreram devido à
alteração da figura da mulher na sociedade portuguesa, que, automaticamente,
teve reflexos na família.
A mulher «tornou-se economicamente independente, começou a sair de casa para
trabalhar, e a ter menos tempo para os filhos, o que exigiu mudanças no papel
que o pai desempenha».
Contudo, defende que a presença dos dois, cada um desempenhando o seu próprio
papel, é fundamental para os filhos: Um pai não substitui uma mãe, ou
vice-versa, mas «complementam-se».
«Cada um tem as suas características próprias, e deve viver de acordo com elas,
interligando as situações do dia a dia em conjunto», advoga a mestra em
Psicologia Educacional, professora na Escola Superior de Educação João de Deus e
na Universidade Lusíada.
Apesar de ter partindo de uma base científica, «Ser Pai, Hoje» foi escrito de
uma forma muito acessível aos pais em geral, estejam eles em situação de família
tradicional, de divórcio, de adopção ou a viver a dinâmica das novas famílias.
Segundo a autora, quase todos os pais com quem falou se lamentam da falta de
tempo para os filhos, e, no entanto, «são hoje homens muito mais presentes na
família do que antigamente».
Se não têm o tempo que gostariam de ter, ajuda saber que «todos os bocadinhos
passados com os filhos são bons se estiverem física e emocionalmente presentes».
A ausência do pai tem fortes reflexos negativos nas crianças, mas há pais que
estão presentes fisicamente, e, contudo, distantes emocionalmente.
Questionada sobre o impacto dos recentes casos de pedofilia nas famílias
portuguesas, a investigadora constata que o país parece ter «acordado» para o
fenómeno.
«Se anteriormente parecia que a pedofilia estava fora de Portugal, hoje fica-se
com a sensação de que qualquer um pode ser pedófilo», observa, rejeitando o
sensacionalismo mediático sobre o assunto, que tem provocado desconfiança e medo
nas pessoas.
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