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Diário de Notícias -31 Mar 03
Ruptura nos partos
ELSA COSTA E SILVA EDUARDA BERNARDO
Os serviços de obstetrícia e ginecologia dos hospitais portugueses estão à beira
de uma situação de ruptura. O presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia
e Ginecologia (SPOG), Carlos Santos Jorge, fala numa situação «dramática».
Faltam médicos e enfermeiros especializados e o maior problema é assegurar as
urgências. A única solução de curto prazo é começar a fechar serviços dos
hospitais portugueses. Ao colégio da especialidade da Ordem dos Médicos começam
a chegar pedidos de pareceres para diminuir o número de profissionais por
equipas.
Várias unidades de todo o País contactadas pelo DN falam em graves carências de
recursos humanos e dificuldades em assegurar a permanência de uma equipa 24
horas por dia. A situação só não é mais grave porque os profissionais acabam por
fazer mais horas de urgência do que aquelas que lhes são exigidas por lei,
adiantam os vários responsáveis pelas unidades hospitalares.
Por outro lado, embora o Colégio de Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia,
tenha reiteradamente afirmado que a constituição de uma equipa de urgência deve
contar com três médicos _ admitindo que o terceiro elemento possa ser um interno
da especialidade dos últimos anos _ a verdade é que são já muitas as
instituições que têm optado por recorrer só a dois médicos por turnos.
Santos Jorge denuncia uma situação ainda «mais grave»: «Uma grande parte do
guarnecimento das urgências é feita por internos, ainda que mais diferenciados,
e não por especialistas.» Por outro lado, explica ainda o presidente da SPOG,
muitos médicos acabam a fazer urgências de 24 horas duas a três vezes por
semana, «com uma óbvia diminuição da capacidade de atendimento e da qualidade do
serviço prestado».
Para resolver esta realidade é «urgente a abertura de vagas para novos internos,
de acordo com a planificação dos serviços». Infelizmente, assinala Santos Jorge,
o rácio que o Ministério da Saúde (MS) tem feito «não tem a ver com o que os
hospitais entendem ser necessário ou com a sua capacidade de formar». Por isso,
«o MS tem que se assumir como responsável», diz.
A curto prazo só há um caminho: «Concentrar os serviços de obstetrícia», defende
o mesmo médico. Isto significa fechar unidades em hospitais, mas tem faltado
«coragem, porque acarreta um risco político muito grande». Há demasiada
«dispersão de recursos», uma concentração planeada poderia evitar situações
actuais onde, num raio de 50 quilómetros, «existem quatro ou cinco serviços de
obstetrícia».
ENFERMEIROS. Se há problemas em encontrar médicos, no campo da enfermagem a
situação está também a agudizar-se. Há já alguns anos que as escolas não abrem
cursos de especialização para obstetrícia e ginecologia. Primeiro, foi por
questões de legislação, mas agora é por não haver autorização ministerial.
«Estamos preocupadíssimos com a situação», afirma Mariana Diniz, a bastonária da
Ordem dos Enfermeiros, sentimento que manifestaram já ao ministro da Ciência e
do Ensino Superior, Pedro Lynce.
Desde Setembro que a OE tem pressionado o ministério, pois sente que «houve uma
diminuição na qualidade dos cuidados». Segundo refere Mariana Diniz, a
assistência em salas de partos tem sido assegurada com recurso a profissionais
generalistas, quando a norma deveria ser a prestação de cuidados especializados
por enfermeiras-parteiras.
Em Portugal, assinala a bastonária Mariana Diniz, «não temos enfermeiros
especializados suficientes» e essa é uma realidade que «não podemos permitir».
Assim, e para dar cumprimento às directivas comunitárias, «é absolutamente
necessário formar profissionais especializados, porque não estamos a defender os
cuidados de saúde materna e infantil».
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