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Público - 11 Mar 03
Estudo Relaciona Violência Televisiva com Agressividade em Adulto
Investigação Norte-americana
Consumo de Programas Violentos Torna Adultos Mais Hostis Anos Depois, Segundo
Psicólogos da Universidade de Michigan
Sofia Rodrigues
As Crianças Que Assistem a Programas de Televisão Violentos Tendem a
Comportar-se de Uma Maneira Mais Agressiva na Idade Adulta, Independentemente do
Sexo, Raça e Estatuto Social.
A investigação relaciona directamente a violência televisiva consumida por
crianças norte-americanas entre os seis e os nove anos com agressões físicas ou
condenações por crimes, ocorridas perto dos 20 anos.
O estudo foi publicado na edição de Março da revista "Developmental Psychology",
da associação American Psychological Association, e é assinado pelo psicólogo L.
Rowell Huesmann e seus colegas da Universidade de Michigan. Incidiu em 329
adultos que foram entrevistados em crianças, no final dos anos 70, e mais tarde
quando se tornaram jovens adultos.
Na primeira fase, um grupo de alunos de escolas da cidade de Chicago escolheu
oito dos seus programas favoritos de uma lista de 80 destinados ao seu grupo
etário e indicou com que frequência os viam. As emissões foram então
classificadas pelos investigadores, tendo em conta a violência física que
continham. Programas como Starsky and Hutch, The Six Million Dollar Man e os
desenhos animados Roaddrunner foram classificados como muito violentos.
Já em adultos, os homens entrevistados que estavam incluídos no topo dos 20 por
cento de maior exposição à violência televisiva registaram duas vezes mais
tendência para agredir fisicamente as suas mulheres durante uma discussão.
No caso das raparigas, as que foram mais expostas e que gostavam de séries como
Charlie's Angels (Os Anjos de Charlie - que passou na RTP), tiveram duas vezes
mais probabilidades de atirarem um objecto contra o marido.
Estes grandes consumidores de violência televisiva também registaram uma maior
propensão do que outros participantes para empurrar alguém com raiva, bater num
adulto, cometer um crime ou uma infracção de trânsito.
As conclusões, de acordo com o estudo, não se alteram consoante o estatuto
económico, a raça, as personalidades dos pais e ocupações, ou outros factores
tidos em conta.
Recomendação para conter consumo de violência
Além da exposição à agressividade das imagens, os participantes também foram
questionados, quando eram crianças, sobre o quanto se identificavam com
personagens violentas de televisão e o quanto realistas consideravam vários
programas violentos.
O estudo mostra que quanto mais altos são os níveis destas respostas, reveladas
quando os participantes eram crianças, mais propensão elas têm para serem
agressivas em adultas.
Esta foi aliás uma das conclusões que mais surpreendeu os investigadores. "As
cenas violentas a partir das quais as crianças tendem, mais tarde, a moldar o
seu comportamento são aquelas em que elas se identificam com o perpetrador da
violência, o perpetrador é premiado pela violência e na qual as crianças
assimilam a cena como se mostrasse a vida tal como ela é", escreveram os
investigadores. "Por isso, um acto violento cometido por alguém como Dirty Harry
[série policial protagonizada por Clint Eastwood] que resulta num criminoso a
ser eliminado e traz glória a Harry é mais preocupante do que um assassínio
cruel cometido por um desprezível criminoso que é levado à justiça",
exemplificaram.
O estudo pretende ainda combater o argumento de que as crianças predispostas
para serem agressivas procuram ver programas violentos. "É mais plausível que a
exposição à violência televisiva aumente a agressão do que esta aumente o
visionamento de violência", segundo Huesmann.
Perante estes resultados, o psicólogo recomenda que os pais limitem o mais
possível o consumo de violência na televisão e no cinema até à pré-adolescência.
Em reacção à divulgação do estudo, o porta-voz da National Association of
Broadcasters, que reúne os operadores de televisão norte-americanos, Dennis
Wharton, afirma que nem todos os estudos encontram uma relação entre consumo de
televisão e comportamento violento.
Uma opinião que não é partilhada por muitos investigadores. "Vem dar força ao
que eu considero ser uma enorme quantidade de informação que aponta para a mesma
direcção", afirmou Joanne Cantor, professora de comunicação da Universidade de
Wiscosin-Madison, citada pela AP. Craig A. Anderson, investigador de violência
na Universidade de Iowa, qualificou o trabalho como "elegante no seu 'design' e
execução".
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