A EDUCAÇÃO sexual vai passar a ser
obrigatória, ensinada a partir do 2.º ciclo e com
manuais certificados por peritos. Estas são algumas das
linhas da proposta apresentada à ministra da Educação
pelo grupo de trabalho nomeado em Junho para estudar e
resolver a polémica em torno desta matéria. O grupo quer
avançar com o projecto já este ano lectivo e defende que
a sexualidade seja integrada numa área de ensino
obrigatório de Educação para a Saúde e dada por um
professor da escola.
O grupo, coordenado por Daniel
Sampaio e que integra Miguel Oliveira da Silva, Isabel
Baptista e Margarida Gaspar de Matos, põe um ponto final
em mais de 20 anos de ambiguidade nos conteúdos da
Educação Sexual ministrados nas escolas portuguesas.
Propõe o fim das actuais Linhas Orientadoras da Educação
Sexual em Meio Escolar, assim como a cessação dos
protocolos assinados entre o Ministério da Educação e
três Organizações Não-Governamentais (ONG) que asseguram
a formação de estudantes e professores, sempre a pedido
das escolas.
Os protocolos foram reconfirmados em
Junho, por um período de um ano e no valor global de 170
mil euros, suportados pelo Ministério da Educação.
«Está errado que o Ministério se demita da
responsabilidade da Educação para a Saúde e a entregue a
uma organização externa», diz Daniel Sampaio ao
EXPRESSO. E acrescenta que «não houve uma
avaliação qualitativa do trabalho desenvolvido por estas
organizações», apesar de ter sido patrocinado pelo
Ministério da Educação um inquérito junto das escolas,
cujos resultados se aguardam desde 2003.
«Pedimos os dados muitas vezes e não nos foram
entregues», afirma Daniel Sampaio, garantindo,
porém, que a decisão de interromper os protocolos seria
sempre tomada, independentemente do resultado desta
avaliação, uma vez que o grupo que coordenou considera
que a Educação para a Saúde é uma responsabilidade do
Ministério que não pode ser delegada. Além disso,
«o que se fez foi pouco»:
«Embora não se possa culpar apenas as ONG, a verdade é
que estão há muito tempo no terreno e os resultados não
são bons em termos da diminuição dos comportamentos de
risco» dos jovens, salienta aquele responsável.
Manuais vistos por
peritos.
Outra das questões que mais polémica
levantou - depois de um artigo publicado em Maio pelo
EXPRESSO - foi a de alguns conteúdos, propostas de
actividades e imagens constantes em manuais para a área
da Educação Sexual. Daniel Sampaio assume não concordar
«com muito do que lá vem, porque pode ferir
a sensibilidade das pessoas», e defende como
necessária a criação de novos manuais, que incluam, além
das questões da sexualidade, temas como «o
álcool, as drogas, a violência e a alimentação». «Têm de
ser muito completos» e certificados «por
um grupo de peritos, que incluam médicos, psicólogos e
enfermeiros», diz.
Apesar de considerar que as questões
da sexualidade só devem ser ministradas «a
partir da puberdade», isto é, no 2.º ciclo, o grupo
defende que a área da Educação para a Saúde deve começar
logo nos primeiros anos de escolaridade. Nessa fase
inicial, «não se pode chamar educação
sexual, mas o ensino de temas da saúde, adequados à
idade». Só mais tarde na escolaridade deverão surgir
os temas da contracepção, da homossexualidade ou do
aborto, que o grupo defende como conteúdos obrigatórios
a leccionar nas escolas, admitindo no entanto
«alguma maleabilidade» e
«heterogeneidade». «Pode haver dentro de
um currículo-base variações de acordo com a
sensibilidade dos pais ou de determinada comunidade»,
conclui o especialista.
A ministra da Educação acolheu
«com grande receptividade» a proposta, mas
só deverá tomar uma decisão no final do mês, depois de
15 dias de discussão pública. Esta proposta, assim
como as recomendações do Conselho Nacional de Educação,
estão desde quarta-feira on-line, no endereço
www.min-edu.pt.