Público
- 6 Nov 05
Açores querem avançar com fim dos fritos e
refrigerantes nas escolas
Catarina Gomes
Medida pretende combater obesidade infantil, que está a
crescer no arquipélago e ultrapassa valores registados no
continente
A Região Autónoma dos Açores quer ser a
primeira em Portugal a avançar com o fim da venda de fritos
e refrigerantes nas escolas. Os conselhos executivos das 40
escolas do arquipélago já foram contactados e a orientação
poderá entrar em vigor durante este ano lectivo, disse ao
PÚBLICO a directora regional de Educação, Isabel Rodrigues.
Um estudo que acompanha o estado de saúde dos alunos
açorianos dá conta de valores de excesso de peso e obesidade
acima da média do continente, referiu Rui César, responsável
pelo Programa Regional de Nutrição e Controlo da Diabetes
nos Açores, à margem do IX Congresso Anual da Sociedade para
o Estudo da Obesidade, que terminou ontem em Lisboa.
O valor dos estudos nacionais apontam para 31 por cento de
crianças com este problema de saúde; nos Açores regista-se
excesso de peso e obesidade em 40 por cento dos miúdos entre
os 10 e os 13 anos; dos seis aos nove a prevalência do
problema atinge os 27 por cento, explicita Rui César, que é
também director do serviço de Endocrinologia e Nutrição do
Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada.
A estes números somam-se baixos níveis de forma física.
"Cerca de 75 por cento das nossas meninas dos seis aos nove
anos não conseguiram fazer os exercícios mínimos - levantar
os braços, correr", diz o médico.
Tendo em conta estes dados, Rui César afirma que tentaram -
com sucesso - sensibilizar a Direcção Regional de Educação
dos Açores para que ficasse excluída dos bares e cantinas
das escolas a venda de refrigerantes, sumos artificiais e
fritos, o que inclui pacotes de batatas fritas, tiras de
milho e outros tipo de aperitivos. "Um copo grande de
refrigerante tem 12 pacotes de açúcar; um pacote de fritos
tem 500 calorias, quando uma criança precisa de mil por
dia", reitera.
A ideia é que as escolas deixem de contratualizar com
empresas de catering "com alimentos de lixo", mas antes
disso é preciso que os contratos vigentes caduquem.
A directora regional de Educação afirma que a medida - que
deverá entrar em vigor ainda durante o ano lectivo em curso
- será sobretudo "simbólica e pedagógica", uma vez que estes
alimentos que deixam de estar disponíveis nas escolas
continuam a poder ser comprados no local mais próximo do
estabelecimento de ensino. É por isso que os responsáveis
querem fazer acompanhar a medida de acções de formação de
educação alimentar nas escolas.
Combater o "flagelo"
da obesidade infantil
Os contactos com os conselhos executivos das cerca de 40
escolas da região - que abrangem cerca de 53 mil alunos - já
começaram. Houve uma reunião na quinta-feira passada para
auscultar os responsáveis pelos estabelecimentos em relação
a esta medida. Isabel Rodrigues refere que a estratégia não
pode ser imposta, sob pena de se tornar ineficaz - tem sim
de reunir consenso em torno da sua "bondade" para fazer face
"ao flagelo da obesidade infantil". Acredita que trará,
ainda assim, "contestações por parte de alunos, professores,
funcionários".
Algumas escolas já proibiram a venda de fritos por sua
iniciativa e vai ser feita a avaliação destas experiências,
acrescenta. A responsável refere que os Açores podem ser
pioneiros em Portugal nesta medida, servindo de
"laboratório", porque são uma região pequena que mantém um
contacto mais próximo com os conselhos executivos das
escolas.
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