Público - 11 Nov 05
Corrida ilegal de carros leva jovem ao banco dos
réus
Cláudia Veloso
Julgamento começa hoje em Setúbal
Jovem de 23 anos conduzia carro sem carta e a alta
velocidade quanto se despistou e matou três pessoas.
É acusado de homicídio voluntário
Começa esta manhã a ser julgado,
no Tribunal de Setúbal, o jovem de 23 anos acusado
da morte de três pessoas, na sequência de um
despiste durante uma corrida de street racing, em
Palmela, em Setembro do ano passado.
Neutel Mendes enfrenta uma acusação de sete crimes:
três de homicídio voluntário, dois de ofensas à
integridade física simples, um de condução perigosa
e outro por condução de veículo sem habilitação
própria.
Tudo aconteceu numa noite como tantas outras, em que
os jovens adeptos da velocidade se juntaram na
chamada "recta do picanço", uma paralela à
Auto-Estrada do Sul, perto das portagens de Coina. A
corrida ilegal acabou de forma trágica quando Neutel
Mendes não conseguiu controlar o Peugeot 106 que
conduzia, sem carta, despistando-se e provocando a
morte de dois rapazes, de 15 e 22 anos, e de uma
rapariga de 24 anos, bem como ferimentos ligeiros em
mais três pessoas e danos em nove veículos
estacionados no local.
Segundo relatos recolhidos pelo PÚBLICO junto de
amigos presentes no dia do acidente, o "azar" de
Neutel Mendes terá sido fazer o percurso, a alta
velocidade, no sentido inverso ao que era "a regra",
apanhando a assistência "desprevenida".
A advogada Maria Graça Rodrigues não conseguiu,
porém, fazer valer a tese do homicídio involuntário
por negligência e o jovem acabou por ficar detido
preventivamente. A medida de coação viria, no
entanto, a ser alterada dois meses depois. O jovem
ficou em prisão domiciliária, com controlo através
de pulseira electrónica e autorização para
trabalhar.
Defesa vai bater-se
pelo homicídio negligente
Graça Rodrigues vai agora tentar, em sede de
julgamento, que a acusação dos crimes mais graves -
homicídio voluntário - seja alterada para "homicídio
negligente, sem dolo", com uma moldura penal de até
cinco anos de prisão. Para a ajudar nessa tese,
solicitou a realização de um exame de personalidade
a Neutel Mendes, cujo resultado ainda desconhecia
ontem.
"É um teste muito importante para que se perceba a
forma como ele encarou esta situação, como tem
gerido tudo o que aconteceu", explicou ao PÚBLICO a
advogada, garantindo que o acidente do dia 26 de
Setembro de 2004 "mudou definitivamente" a vida de
Neutel Mendes.
"Ele já era um miúdo reservado que nunca pensou que
uma coisa destas pudesse acontecer, e ainda mais
reservado ficou depois", salienta Graça Rodrigues. A
moldura penal para os três crimes mais graves de que
o jovem é acusado é de oito a 16 anos de prisão.