Expresso - 12 Nov 05

Editorial

O colapso da Europa

«A segurança, as conquistas dos trabalhadores, o bem-estar, a moderação política - hoje tudo está em causa. Quem poderá prever o dia de amanhã?»

OS ACONTECIMENTOS dos últimos dias em França (e na Bélgica) são mais uma acha na fogueira que consome a Europa. Os episódios negativos sucedem-se. Os sinais multiplicam-se.

De há anos para cá o mal-estar avoluma-se.

Os sucessos alcançados por políticos como Le Pen, Joerg Haider ou Pim Fortuyn foram maus augúrios.

O «não» à Constituição europeia em França e na Holanda foi outro sintoma.

O quase impasse a que conduziram as últimas eleições alemãs também não ajudou.

E a isto há que somar a ameça que constitui para a economia europeia a invasão chinesa.

E o colapso anunciado do modelo social europeu.

E as dificuldades que existem no diálogo entre a Europa e os Estados Unidos.

E o perigo islâmico.

TUDO leva a crer que aquela Europa que surgia como exemplo aos olhos do mundo - com o direito às 8 horas diárias de trabalho, férias pagas, assistência gratuita na doença, interdição do despedimento sem justa causa, reforma por inteiro - está hoje condenada.

As regalias conquistadas pelos trabalhadores transformaram-se numa arma contra eles próprios: onerando os preços dos produtos, tornam-nos pouco atractivos e incapazes de competir com a produção do Oriente, provocando a falência das empresas.

E esta por sua vez originará mais problemas, com manifestações nas ruas, desemprego, mal-estar social.

ACRESCE que a emigração, a que a Europa recorreu para ter mão-de-obra mais barata ou preencher lacunas em alguns sectores, começa a revelar a sua face mais problemática.

Hoje são os emigrantes que se revoltam - amanhã serão os europeus, exigindo a expulsão dos emigrantes ou, no mínimo, o encerramento das fronteiras.

E a isto há ainda que somar o terrorismo - que através da Al-Qaeda se globalizou e já conta com células no interior das sociedades europeias, que a qualquer momento podem ser activadas e espalhar a morte e a destruição.

E para isto o acordo de Schengen foi um útil contributo, ao abolir as fronteiras entre os Estados europeus.

A EUROPA está ameaçada de fora - e arde por dentro, parecendo em risco de implodir.

A segurança, as conquistas dos trabalhadores, o bem-estar, a moderação política - hoje tudo está em causa.

Quem poderá prever o dia de amanhã?

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