«A segurança, as conquistas dos trabalhadores, o bem-estar,
a moderação política - hoje tudo está em causa. Quem poderá
prever o dia de amanhã?»
OS ACONTECIMENTOS dos últimos dias em França (e na
Bélgica) são mais uma acha na fogueira que consome a Europa.
Os episódios negativos sucedem-se. Os sinais multiplicam-se.
De há anos para cá o mal-estar avoluma-se.
Os sucessos alcançados por políticos como Le Pen, Joerg
Haider ou Pim Fortuyn foram maus augúrios.
O «não» à Constituição europeia em França e na Holanda
foi outro sintoma.
O quase impasse a que conduziram as últimas eleições
alemãs também não ajudou.
E a isto há que somar a ameça que constitui para a
economia europeia a invasão chinesa.
E o colapso anunciado do modelo social europeu.
E as dificuldades que existem no diálogo entre a Europa e
os Estados Unidos.
E o perigo islâmico.
TUDO leva a crer que aquela Europa que surgia como
exemplo aos olhos do mundo - com o direito às 8 horas
diárias de trabalho, férias pagas, assistência gratuita na
doença, interdição do despedimento sem justa causa, reforma
por inteiro - está hoje condenada.
As regalias conquistadas pelos trabalhadores
transformaram-se numa arma contra eles próprios: onerando os
preços dos produtos, tornam-nos pouco atractivos e incapazes
de competir com a produção do Oriente, provocando a falência
das empresas.
E esta por sua vez originará mais problemas, com
manifestações nas ruas, desemprego, mal-estar social.
ACRESCE que a emigração, a que a Europa recorreu para ter
mão-de-obra mais barata ou preencher lacunas em alguns
sectores, começa a revelar a sua face mais problemática.
Hoje são os emigrantes que se revoltam - amanhã serão os
europeus, exigindo a expulsão dos emigrantes ou, no mínimo,
o encerramento das fronteiras.
E a isto há ainda que somar o terrorismo - que através da
Al-Qaeda se globalizou e já conta com células no interior
das sociedades europeias, que a qualquer momento podem ser
activadas e espalhar a morte e a destruição.
E para isto o acordo de Schengen foi um útil contributo,
ao abolir as fronteiras entre os Estados europeus.
A EUROPA está ameaçada de fora - e arde por dentro,
parecendo em risco de implodir.
A segurança, as conquistas dos trabalhadores, o
bem-estar, a moderação política - hoje tudo está em causa.
Quem poderá prever o dia de amanhã?