O modelo social europeu
não tem uma fórmula única, havendo as que
funcionam e as que são inviáveis
M. acaba de doutorar-se
numa prestigiada universidade inglesa. Na
sua mesa tem propostas de trabalho de
instituições inglesas, francesas e
norte-americanas. Escolhe ir para o outro
lado do Atlântico, apesar de ficar mais
longe do país onde nasceu e que lhe pagou os
estudos, Portugal. Mas de cá não lhe chegou
nenhuma proposta, nem qualquer esperança de
futuro.
H., um jornalista americano, conta que
esteve em Roma e não podia ter apreciado
mais a amenidade do clima, a beleza dos
espaços urbanos e a qualidade dos
restaurantes. Como deve ser agradável viver
nesta cidade, pensou, estranhando ver nas
ruas menos jovens do que esperaria.
Perguntou a um velho conhecido, romano de
toda vida, e a resposta veio rápida: os
jovens não têm oportunidades em Roma. Em
Itália, só mais a norte. Ou então fora de
Itália.
F. ensina numa universidade da Noruega, país
que possui um dos mais elevados rendimentos
per capita do mundo. O marido não é
licenciado e tem um emprego banal, mas
também bem pago. Este ano estiveram de
férias num país do Sul e, apesar do seu
poder de compra, viajavam com mochilas,
utilizaram os transportes públicos mas não
deixaram de visitar museus ou de percorrer a
pé montes e vales que os portugueses mal
conhecem.
Estas três histórias dão-nos sinais sobre os
caminhos que percorremos. Nenhuma delas tem
como protagonistas imigrantes africanos à
procura de melhor fortuna na Europa, mas
todas mostram que há mais esperança no
futuro, e também mais confiança no presente,
conforme nos deslocamos para norte e/ou para
o mundo anglo-saxónico. Porque lá há mais
oportunidades, mais eficiência económica e,
por vezes, também mais equidade social.
Mesmo que falte sol e a delícia de viver
entre ruínas de um passado grandioso.
O contraponto destas histórias são os
dilemas hoje vividos em França, onde se
tornou necessário prolongar por três meses o
estado de emergência, com a correspondente
limitação das liberdades públicas, as dores
de parto do novo Governo alemão ou a
dificuldade com que em Portugal se procura
concretizar reformas reconhecidas como
indispensáveis. No conjunto ilustram a
pertinência de algumas das observações de
André Sapir no seu mais recente relatório
para os ministros das Finanças da União
Europeia sobre o futuro do modelo social
europeu.
E qual é o ponto central desse relatório? O
de que não existe um, mas sim quatro modelos
sociais na Europa: o nórdico, o anglo-saxão,
o continental e o mediterrânico. Sem entrar
em detalhes, a que o PÚBLICO voltará,
importa sublinhar que os dois primeiros se
destacam pela sua eficiência económica,
sendo o nórdico mais equitativo que o
anglo-saxão. Ambos têm sustentabilidade e
poder de atracção. Já o modelo continental é
equitativo mas não é eficiente e o
mediterrânico (o nosso e de Roma...), nem é
equitativo, nem eficiente. Um e outro são
insustentáveis.
Daí que tenhamos de mudar de vida (e de
modelo, com tudo o que isso implica) ou de
mudar de país (imigrando, como sempre
fizemos, só que agora as portas abrem-se
sobretudo para os melhores de nós, o que é
ainda mais trágico para os que cá vão
ficando). Se acreditarmos que ainda
existimos como nação, o melhor seria mudar
de vida, razão por que vale a pena olhar
para o exemplo daqueles turistas
noruegueses. E notar algumas diferenças: no
casal, é a mulher a mais qualificada, mas
não há preconceitos; viajam sem luxos,
apesar do seu poder de compra; e preferem
prazeres simples, sem ostentação. Enfim,
outra filosofia de vida - melhor, uma outra
cultura, um outro capital social, bem mais
valioso do que o petróleo que exploram