Agência Ecclesia
- 16 Nov 05
Comissão Episcopal da Educação propõe visão mais
ampla da sexualidade
Parecer do organismo eclesial deixa críticas ao
relatório do Grupo de Trabalho de Educação Sexual
A
Comissão Episcopal da Educação Cristã (CEEC) lançou
hoje várias críticas ao “Relatório Preliminar” do
Grupo de Trabalho de Educação Sexual, criado por
Despacho da Ministra da Educação. Num Parecer sobre
a “Educação Sexual em meio escolar”, este organismo
da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lamenta a
vinculação da “Educação Sexual” à “Educação para a
Saúde” e a ausência da “dimensão ética e dos
valores”, da “perspectiva das religiões e das
diversas culturas” no referido documento.
A CEEC considera "redutora" a integração da educação
sexual nas escolas como uma alínea da educação para
a saúde. “Preferimos situar a Educação Sexual num
horizonte mais amplo e mais profundo, como um
elemento decisivo para o desenvolvimento global da
pessoa”, refere o Parecer publicado pela Agência
ECCLESIA.
“A ausência de relação harmónica entre a Educação
Sexual e a construção progressiva de um projecto de
vida com sentido, conduz ao empobrecimento da
sexualidade, reduzida que fica à dimensão dos
mecanismos corporais e reprodutores, que se pretende
controlar”, acrescenta o documento da CEEC.
Para os Bispos deste organismo, a proposta do
Relatório tem um “prisma negativo”, procurando
evitar a “gravidez não planeada”, as “doenças
sexualmente transmissíveis” e “abusos e exploração
sexual”, mas esquecendo “os aspectos psicológicos e
relacionais”.
O Parecer da CEEC critica ainda “uma visão
demasiadamente negativa quanto às capacidades
educativas dos pais” presente no referido Relatório
e defende “a relação subsidiária da Escola em
relação à Família", que considera como a mais
relevante comunidade educativa.
“Seria importante desenvolver a Escola também como
‘Escola de Pais’, ao serviço de uma adequada
preparação dos mesmos como educadores dos filhos,
concretamente no domínio da sexualidade”, pede a
CEEC.
Sobre a “perspectiva da transversalidade a todas as
disciplinas”, o Parecer prevê uma “inevitável
desorientação resultante da multiplicidade de
mentalidades e de critérios dos professores”,
lembrando que nesta matéria as visões são plurais.
“Sugerimos a inclusão de uma Área curricular não
disciplinar de ‘Educação da Sexualidade’ na
Componente de Formação Pessoal e Social, com carga
horária e método de avaliação a ponderar com
adequação e realismo”, adianta este documento
episcopal.
O Parecer propõe ainda “o fornecimento de uma matriz
comum de conteúdos curriculares, para ser gerida por
cada escola/agrupamento de forma integrada no seu
Projecto Educativo, com envolvimento programado dos
pais/encarregados de educação e o eventual recurso à
colaboração de outras entidades de reconhecida
competência”. Quanto aos professores, tutores e
responsáveis de serviços de atendimento dos alunos,
referidos no Relatório, o Parecer sublinha que a
“competência científica é um requisito necessário,
mas não suficiente”. “Nesse sentido, consideramos de
excluir a colaboração de estudantes mais velhos que
frequentam escolas do ensino superior,
frequentemente sublinhada no Relatório”, acrescenta
a CEEC.
Para esta Comissão Episcopal, a posição do Conselho
Nacional de Educação sobre a “Educação Sexual nas
escolas” é “mais adequada como referência para o
trabalho futuro”. Deste documento são elogiadas a
“visão mais ampla dos conceitos de Sexualidade e de
Educação Sexual”, o “sentido mais apurado da
realidade e das potencialidades da Escola actual”, a
“abertura ao pluralismo” e “respeito pela autonomia
das escolas”, bem como uma “maior preocupação pela
salvaguarda da continuidade do trabalho já
desenvolvido pelas escolas”.
Os responsáveis da CEEC lembram que a CEP já se
pronunciou sobre o assunto com a Nota publicada
sobre “A Educação da Sexualidade” (23.06.2005). “É
nosso desejo, com esta e outras reflexões, dar o
nosso contributo para a implementação da Educação da
Sexualidade nas escolas portuguesas, conferindo a
profundidade e salvaguardando a dignidade que
matéria humana tão nobre merece”, asseguram.
“Urge proporcionar condições para que um número cada
vez mais crescente de pessoas e entidades se habitue
a reflectir e a exprimir publicamente as suas
opiniões sobre matérias decisivas para o
desenvolvimento pessoal e social. Nesse sentido, é
necessário dar maior divulgação às consultas
públicas e ampliar os períodos de debate”, conclui o
Parecer.