Expresso online - 17 Nov 05

A retenção e o insucesso

Nuno Cartao

Segundo o «Diário de Notícias» de ontem, um novo despacho normativo do Ministério da Educação vem permitir que as escolas decidam passar de ano qualquer repetente com maus resultados. Podem fazê-lo se considerarem que se esgotaram todos os mecanismos de recuperação.

A medida surge como parte de um «conjunto de estratégias para combater o insucesso» no Ensino Básico. Conviria conhecer as outras. Esta é curiosa, pois passar de ano para combater o insucesso apenas o combate nominalmente. Melhora as estatísticas, isso é certo. Mas é duvidoso que melhore a aprendizagem.

Pode pensar-se que se trata de uma gralha ou mal entendido. Mas a realidade é que entre os que mais se têm oposto aos exames e às reprovações estão muitos teóricos de uma pedagogia retrógrada e antiquada que curiosamente se diz «progressista». De acordo com os cânones dessa pretensa pedagogia, as avaliações e os exames são prejudiciais pois a retenção não ajuda os alunos a progredir.

Admitamos que sim, que um aluno reprovado não progrida por repetir um ano. Pode acontecer. Tal como pode acontecer que assim ganhe, ele e a família, consciência da situação e que isso o ajude a progredir na segunda oportunidade que lhe é dada.

Mas mesmo que não avance, quer isso dizer que as avaliações e os exames são prejudiciais? Quer isso dizer que estabelecer metas e verificá-las não é positivo para os alunos em geral?

E verificarem os estudantes que afinal se pode passar de ano sem saber não é o mesmo que dizer-lhes que o estudo e o esforço não são necessários? Não ficarão todos pior assim? Não ficaremos todos pior assim?

 

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