Depois do
ensino básico, o DN foi ver como reagem as
escolas secundárias - em muitos casos
também a leccionar o 3.º ciclo - às novas
medidas do Ministério da Educação. As
mesmas, recorde-se, que estão na origem da
greve e manifestação dos professores. Neste
grau de ensino, as actividades não
lectivas (além da leccionação das aulas,
como a correcção de testes) dos docentes têm
de ser passadas obrigatoriamente na escola,
com o respectivo horário afixado em
local bem visível. No ensino secundário não
há aulas de substituição, mas os
professores são chamados a substituir
os que faltaram em turmas do 3.º ciclo (7.º,
8.º e 9.º anos). "Não são professores da
disciplina e nem sequer conhecem a turma.
Nós não estamos motivados para estar aqui,
mas eles também não", argumenta o Pedro
brincadeira. Alunos reclamam pelo
direito de voltar a gozar os tão ansiados
"feriados" nas faltas dos profs
A aula de Português deveria ser substituída
por Ciências Naturais, mas a palavra foi
dada aos alunos e transformou-se num debate
sobre as aulas de substituição. A ideia de
que poderiam estar no recreio a aproveitar o
bom tempo em vez de fechados, mais uma vez,
com um professor desconhecido deixava
destroçados os alunos de uma turma do 9.º
ano da Escola Secundária de Ermesinde. "Não
gosto das aulas de substituição. Gosto mais
de jogar à bola. É mais estimulante",
reclamava o Fábio. "Só hoje vamos ter dois
blocos de 90 minutos de substituições. É um
exagero", queixava-se o Tiago.
Desde o início do ano, a turma vai já na sua
15.ª aula de substituição, muitas
correspondentes a blocos de 90 minutos. A
maioria das quais passadas "sem fazer nada
de interessante", diz a Joana. "Se em cada
aula fizéssemos sudoku, a esta hora
já estávamos especialistas", responde o
Francisco, e arranca gargalhada geral. "Só
numa aula fiz quatro páginas de palavras
cruzadas", intervém a Márcia.
A Rita confessa que a má vontade também
parte dos alunos, porque "quando os
professores perguntam se há trabalhos de
casa para fazer dizemos que não e depois
ficamos aqui sem fazer nada!". O Pedro
coloca o dedo na ferida "Não são professores
da disciplina e nem sequer conhecem a turma.
Nós não estamos motivados para estar aqui,
mas eles também não."
Para a professora Antonieta Monteiro, as
aulas de substituição são benéficas desde
que "efectivamente preparadas". "Primeiro há
que auscultar quais as necessidades da
turma. E ter algo já preparado em carteira."
Numa posição algo inovadora no seio da
profissão, defende que tudo se resume à
necessidade de "conquistar os alunos" para
esta nova realidade. Quanto aos professores,
diz, "nós não precisamos de ser motivados
para as aulas de substituição, fazem parte
do nosso horário e não temos de ser pagos
por isso. São é medidas incómodas para muita
gente". Dos vários projectos em que está
envolvida, em parceria com outros docentes,
destaca o desenvol-vimento de uma horta
pedagógica.
Com uma população escolar de 216 professores
e 2400 alunos para gerir, Álvaro Pereira,
presidente do Conselho Executivo, considera
que as alterações do Governo pecaram por
terem sido decretadas "muito tardiamente",
deixando "as escolas sem tempo para
organizar as actividades de substituição".
Isto já para não falar do facto de os
professores terem de permanecer bastante
mais tempo na escola quando esta "não tem
espaço disponível para que eles desenvolvam
os seus projectos".
Na Escola Secundária de Ermesinde ficou
estabelecido que, com a componente não
lectiva, os do-centes permanecerão, no
total, entre 24 a 26 horas semanais no
estabelecimento de ensino, sendo que todos
têm um ou dois blocos semanais de 90 minutos
de actividades de substituição. Ou seja,
diariamente há seis a oito docentes
disponíveis em cada tempo na sala dos
professores a aguardar que sejam chamados,
de acordo com uma escala. Distribuem-se,
ainda, pelas salas de Estudo, de Recurso e
de Matemática, espaços exíguos onde os
alunos podem recorrer ao apoio de
professores.
Orquídea, professora de História há mais de
30 anos, manifesta-se contra as alterações.
"Apa- nhei todas as mudanças desde 1973, mas
esta é a mais dramática de todas. O Governo
recusa-se a reconhecer o trabalho realiza-
do fora da escola... então ponham-me aqui
durante as 35 horas semanais mas dêem-me
condições para realizar as minhas tarefas",
protesta.