Processo de adopção alvo de críticas, bem
como programas e horários escolares
Os fundadores do sindicato das crianças vão
anunciar amanhã uma campanha contra os pais
de crianças institucionalizadas, que as
impedem de ser adoptadas simplesmente porque
lhes ligam uma a duas vezes por ano.
"Estamos a chegar ao Natal e muitas crianças
não têm direito a uma família, porque os
progenitores lhes fazem um telefonema de
cinco minutos por ano. Vamos propor aos
centros de acolhimento que desliguem o
telefone no Natal e pedir aos seus membros
que se demitam em bloco. Produzir crianças
em Portugal não pode ser em voluntariado",
afirmou o psicólogo Eduardo Sá, durante a
apresentação do livro Chega-te a Mim e
Deixa-te Estar, em Leiria.
O Estado foi ainda alvo de críticas por
parte do psicólogo pela lentidão com que
decorre o processo de adopção. "Em Portugal
há mais de 20 mil crianças à espera de uma
família e 40 mil sinalizadas como estando em
perigo - em 2004 só foram adoptadas 382. O
Estado não é um Estado de direito em relação
às crianças."
Eduardo Sá considera, por outro lado, que as
regras impostas aos pais também devem ser
aplicadas às pessoas que acompanham as
crianças e ao próprio Estado. "Devia ser
proibido dar-lhes 48 horas de paraíso e
depois devolvê-las ao purgatório. Como as
crianças, muitas vezes, não têm voz para
reivindicar, assumimos essa tarefa."
O psicólogo, o pediatra Mário Cordeiro, a
jornalista Isabel Stilwell, a educadora Ana
Galvão Lucas e a jurista Clara Sotto Mayor
pretendem ainda elaborar um ranking dos
melhores recreios das escolas portuguesas,
segundo Eduardo Sá, para "envergonhar o
Ministério da Educação". "Brincar não pode
ser uma actividade sazonal", sublinhou. E os
pais, acrescentou, devem ser os primeiros a
não esquecê-lo, reservando uma hora por dia
para brincar com os filhos nos seus
horários, a vermelho.
O facto de os professores serem obrigados a
"entreter" os alunos durante os furos, à
excepção de casos em que os docentes se
ausentem durante um período alargado, também
mereceu críticas por parte do psicólogo.
"Não vejo que os feriados façam mal às
crianças."
As alterações introduzidas ao nível do 1.º
ciclo também foram contestadas: "Não temos
nada contra o Inglês, mas vamos propor que
também haja aulas de compensação a
Português", disciplina que, diz, tem sido
esquecida "como se fosse um adereço" e que
considerou determinante para ter bons
resultados a Matemática. "Mais importante do
que aprender Inglês é aprender Música",
acrescentou.
Empenhado na defesa dos direitos das
crianças, Eduardo Sá lamentou que os
governos andem "distraídos" em relação aos
seus problemas. "Muitas crianças levantam-se
às 8h00 e vão para a escola. Depois, há
aquela invenção infeliz que são os ATL, onde
têm actividades extracurriculares. E, quando
chegam a casa, ainda têm que fazer uma lista
infindável de trabalhos de casa. Muitas
crianças trabalham 12 horas por dia."