Caso na Escola
Agrária de Santarém
foi denunciado por uma aluna em Fevereiro de
2003
O Tribunal de
Santarém decidiu ontem que seis jovens que
no início do ano lectivo de 2002/03 praxaram
uma colega na Escola Superior Agrária da
cidade vão a julgamento.
"Será a primeira vez que as violências das
praxes serão julgadas em tribunal", reagiu o
Movimento Anti-Tradição Académica (MATA), em
comunicado emitido ao final do dia. Os
jovens são pronunciados por ofensa à
integridade física qualificada. O despacho
do juiz é passível de recurso nos próximos
15 dias.
"É uma decisão histórica", sublinhou, por
seu lado, Manuela Miranda, a advogada da
caloira. "Termos chegado até aqui é uma
vitória."
Foi em Fevereiro de 2003 que a jovem, então
com 22 anos, enviou uma queixa ao ministro
da Ciência e do Ensino Superior, que era
Pedro Lynce. Na exposição explicava que
tinha sido sujeita a uma sucessão de praxes
que considerou uma verdadeira "tortura".
"Durante os nove dias (primeiros de estada
na escola...) o meu espanto aumentava: 21
horas diárias a sermos nós, os caloiros,
vítimas de praxes consecutivas", escreveu,
como então o PÚBLICO noticiou.
A jovem contou ainda, na mesma exposição,
que no dia 8 de Outubro de 2002, juntamente
com mais 30 caloiros, foi levada por membros
da comissão de praxes para uma quinta de que
a escola é proprietária. "Continuavam a
gritar expressões como "porca", "ovelha",
que não merecia o almoço que tinha comido,
que devia era comer merda", relatou na carta
a Lynce. "Um veterano foi buscar dois sacos
de esterco de porco e, sendo escolhidos
quatro dos 30 caloiros presentes, foi-lhes
dada a liberdade de me esfregarem com esse
esterco". Depois, denunciou a caloira, foi
levantada pelas pernas e colocaram-lhe a
cabeça num bacio com excrementos de vaca.
Estudantes que praxaram a aluna chegaram a
ser suspensos por 15 dias. E o Ministério
Público acabou, há cerca de um ano, por
acusar sete pessoas, seis das quais eram
membros da comissão de praxes. O outro
arguido era um aluno veterano da escola.
Os jovens que pertenciam à comissão de
praxes foram acusados de crime de ofensa à
integridade física qualificada; o veterano
de coacção e injúria. Ontem, foi dado como
procedente o pedido do Ministério Público de
julgamento sobre seis dos sete arguidos.
"Foi um longo e doloroso processo, que
acompanhámos desde o início. Esperamos que
se possa desenrolar de uma forma mais célere
do que até aqui, por forma a evitar mais
sofrimentos ", declarou o MATA em
comunicado.
A aluna acabou por mudar de escola. O MATA
elogia o facto de ela ter denunciado o caso
e espera que a decisão de ontem do tribunal
possa servir para evitar novos casos
semelhantes.
Citada pela Lusa, a mãe da aluna lamentou
que, ao contrário do que a filha pedira, na
fase de inquérito nenhum dos colegas ou
docentes tivesse prestado declarações. com
Lusa