Fui ver o Prós e Contras com a maior
curiosidade. Queria perceber que terá levado
professores à greve, que me dizem que foi
muito participada (não estava cá para ver de
mais perto). Mas nas actuais circunstâncias
difíceis do país, um sector tão importante
como é a educação só poderia, pensava eu,
fazer greve com ponderosas razões. Devo
dizer desde já que fiquei convencido que
todos estavam de acordo no essencial e que
aquilo que os dividia eram questões formais,
de lana-caprina, que não justificavam a
irresponsabilidade demonstrada. Cheguei à
conclusão de que o que teria movido os
sindicatos seria uma vez mais uma lamentável
ausência de solidariedade para com um
governo que tomou medidas corajosas que até
agora mais ninguém havia tomado (e isso
deve-se à coragem e determinação de José
Sócrates), e que deu uma linha orçamental
para o país, e aquela tendência dos
sindicatos para se tornarem forças de
conservação e mesmo reaccionarismo face às
mudanças do mundo que manifestamente não
entendem (e que conduz a uma
dessindicalização vertiginosa em toda a
Europa). É triste, quando se trata de
profissionais que têm por função compreender
o mundo.
Diga-se desde já que a ministra foi
excelente. Sem nenhuma arrogância, revelando
o espírito de diálogo e abertura que muitos
lhe contestam, Maria de Lurdes Rodrigues
mostrou entusiasmo na sua missão e foi mesmo
ao ponto de reconhecer que esse entusiasmo
poderia ter efeitos negativos no modo como
por vezes queria resolver as coisas.
Parabéns também para David Justino, que, com
um sentido de justiça que se sobrepôs a
razões políticas (essas que levaram à
desgraça parlamentar de Marques Mendes),
soube dizer como estava de acordo com quase
todas as medidas da actual ministra.
Para além dos aspectos que dizem respeito à
função pública em geral (e que todos aceitam
para os outros, mas ninguém quer aceitar
para si), julgava que a grande questão era a
das aulas de substituição. Ouvi sobre isso
dizerem-se coisas extraordinárias: que os
professores não tinham que ficar a tomar
conta de meninos, e que um professor de
Geografia não poderia substituir uma aula de
Educação Física. Estávamos na demagogia mais
despudorada. Substituir uma aula em que um
professor falta não é necessariamente dar a
matéria que ele estava a dar. Mas qualquer
professor que não seja um debilóide sabe
estabelecer uma relação com turmas de alunos
que não conhece e conversar
descontraidamente sobre aspectos genéricos
das disciplinas e as suas correlações (nada
é estanque), sobre os modos de tirar notas
na aula, sobre a procura de um livro ou de
um artigo na biblioteca, sobre o uso
produtivo da Internet e outras questões
metodológicas. O único problema que vejo na
permanência dos professores nas escolas está
na necessidade de encontrar espaços onde
eles possam trabalhar sossegadamente, ler os
livros que lhes interessam ou preparar
aulas. Esta é a questão que me parece que
cada escola, na sua autonomia, tem de
resolver.
Quanto à greve, foi certamente um equívoco
de que alguns se aproveitaram politicamente.
Professor universitário