Público - 23 Nov 05

Aulas de substituição

Eduardo Prado Coelho

 

Fui ver o Prós e Contras com a maior curiosidade. Queria perceber que terá levado professores à greve, que me dizem que foi muito participada (não estava cá para ver de mais perto). Mas nas actuais circunstâncias difíceis do país, um sector tão importante como é a educação só poderia, pensava eu, fazer greve com ponderosas razões. Devo dizer desde já que fiquei convencido que todos estavam de acordo no essencial e que aquilo que os dividia eram questões formais, de lana-caprina, que não justificavam a irresponsabilidade demonstrada. Cheguei à conclusão de que o que teria movido os sindicatos seria uma vez mais uma lamentável ausência de solidariedade para com um governo que tomou medidas corajosas que até agora mais ninguém havia tomado (e isso deve-se à coragem e determinação de José Sócrates), e que deu uma linha orçamental para o país, e aquela tendência dos sindicatos para se tornarem forças de conservação e mesmo reaccionarismo face às mudanças do mundo que manifestamente não entendem (e que conduz a uma dessindicalização vertiginosa em toda a Europa). É triste, quando se trata de profissionais que têm por função compreender o mundo.
Diga-se desde já que a ministra foi excelente. Sem nenhuma arrogância, revelando o espírito de diálogo e abertura que muitos lhe contestam, Maria de Lurdes Rodrigues mostrou entusiasmo na sua missão e foi mesmo ao ponto de reconhecer que esse entusiasmo poderia ter efeitos negativos no modo como por vezes queria resolver as coisas. Parabéns também para David Justino, que, com um sentido de justiça que se sobrepôs a razões políticas (essas que levaram à desgraça parlamentar de Marques Mendes), soube dizer como estava de acordo com quase todas as medidas da actual ministra.
Para além dos aspectos que dizem respeito à função pública em geral (e que todos aceitam para os outros, mas ninguém quer aceitar para si), julgava que a grande questão era a das aulas de substituição. Ouvi sobre isso dizerem-se coisas extraordinárias: que os professores não tinham que ficar a tomar conta de meninos, e que um professor de Geografia não poderia substituir uma aula de Educação Física. Estávamos na demagogia mais despudorada. Substituir uma aula em que um professor falta não é necessariamente dar a matéria que ele estava a dar. Mas qualquer professor que não seja um debilóide sabe estabelecer uma relação com turmas de alunos que não conhece e conversar descontraidamente sobre aspectos genéricos das disciplinas e as suas correlações (nada é estanque), sobre os modos de tirar notas na aula, sobre a procura de um livro ou de um artigo na biblioteca, sobre o uso produtivo da Internet e outras questões metodológicas. O único problema que vejo na permanência dos professores nas escolas está na necessidade de encontrar espaços onde eles possam trabalhar sossegadamente, ler os livros que lhes interessam ou preparar aulas. Esta é a questão que me parece que cada escola, na sua autonomia, tem de resolver.
Quanto à greve, foi certamente um equívoco de que alguns se aproveitaram politicamente. Professor universitário

 

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