É lançado hoje, em Lisboa, um livro que
cruza as experiências vividas por cinco pais
em luto com os testemunhos de outras
famílias que também ficaram em sofrimento
depois da morte dos filhos.
Na Curva do Caminho - Testemunhos de Pais é
escrito por quatro mães e um pai que fazem
parte da associação A Nossa Âncora, que dá
apoio a famílias em luto. Levar o trabalho
da associação a quem não tem acesso a esta
ajuda espiritual é um dos objectivos do
livro.
A obra relata "o caminho daqueles que
tiveram a coragem de se interrogar e aceitar
olhar para si próprios; que descobriram a
sua força interior e modificaram a forma de
amar", lê-se na introdução.
Todos os anos morrem em Portugal cinco mil
jovens. As famílias são também "destruídas
dos mais diversos modos, gerando, para além
do desgosto, problemas de vária ordem,
muitos deles sem solução fácil nem
imediata". O livro serve quer sensibilizar a
sociedade para "tão grave e complexa
realidade familiar e social".
Cada um dos cinco autores, partindo da sua
experiência pessoal, familiar e social,
escreveu o que pensa e sente no momento
actual do seu percurso. "É um livro inédito
com muitos testemunhos de pais que viram
morrer os filhos, de diferentes idades e
causas de morte", diz Maria Emília Pires,
fundadora de A Nossa Âncora e uma das
autoras.
Na Curva do Caminho é o primeiro de três
livros a publicar a propósito do 10.º
aniversário da associação, que se assinala a
31 de Janeiro de 2006.
O prefácio é assinado por João Sennfelt,
chefe de serviço do Hospital Miguel
Bombarda, em Lisboa, que há 12 anos pediu a
Maria Emília Pires para se encontrar com
algumas mães cujos filhos tinham morrido
recentemente. Foi assim que nasceu a
associação de entreajuda.
O livro também pretende apoiar os
profissionais de saúde que têm de lidar com
pais que perderam filhos. João Sennfelt
reconhece que "ajudar uma pessoa em luto é
uma tarefa complicada para um médico". Para
um pai perpetuar a memória de um filho,
prossegue o psiquiatra, "é necessário
empreender um caminho tão doloroso que, por
vezes, alguns deles tentam esconder-se por
trás de múltiplas muralhas e defesas
laboriosamente erguidas de esquecimento e de
anestesia". Sofia Rodrigues