Público - 24 Nov 05

Experiências de vários pais em luto reunidas em livro

 

É lançado hoje, em Lisboa, um livro que cruza as experiências vividas por cinco pais em luto com os testemunhos de outras famílias que também ficaram em sofrimento depois da morte dos filhos.
Na Curva do Caminho - Testemunhos de Pais é escrito por quatro mães e um pai que fazem parte da associação A Nossa Âncora, que dá apoio a famílias em luto. Levar o trabalho da associação a quem não tem acesso a esta ajuda espiritual é um dos objectivos do livro.
A obra relata "o caminho daqueles que tiveram a coragem de se interrogar e aceitar olhar para si próprios; que descobriram a sua força interior e modificaram a forma de amar", lê-se na introdução.
Todos os anos morrem em Portugal cinco mil jovens. As famílias são também "destruídas dos mais diversos modos, gerando, para além do desgosto, problemas de vária ordem, muitos deles sem solução fácil nem imediata". O livro serve quer sensibilizar a sociedade para "tão grave e complexa realidade familiar e social".
Cada um dos cinco autores, partindo da sua experiência pessoal, familiar e social, escreveu o que pensa e sente no momento actual do seu percurso. "É um livro inédito com muitos testemunhos de pais que viram morrer os filhos, de diferentes idades e causas de morte", diz Maria Emília Pires, fundadora de A Nossa Âncora e uma das autoras.
Na Curva do Caminho é o primeiro de três livros a publicar a propósito do 10.º aniversário da associação, que se assinala a 31 de Janeiro de 2006.
O prefácio é assinado por João Sennfelt, chefe de serviço do Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, que há 12 anos pediu a Maria Emília Pires para se encontrar com algumas mães cujos filhos tinham morrido recentemente. Foi assim que nasceu a associação de entreajuda.
O livro também pretende apoiar os profissionais de saúde que têm de lidar com pais que perderam filhos. João Sennfelt reconhece que "ajudar uma pessoa em luto é uma tarefa complicada para um médico". Para um pai perpetuar a memória de um filho, prossegue o psiquiatra, "é necessário empreender um caminho tão doloroso que, por vezes, alguns deles tentam esconder-se por trás de múltiplas muralhas e defesas laboriosamente erguidas de esquecimento e de anestesia". Sofia Rodrigues

 

[anterior]