Lisboa apresenta os índices de
envelhecimento mais elevados do país.
Alvalade e São João de Brito são as
freguesias com mais idosos
Lisboa é a cidade portuguesa mais
envelhecida e está entre as dez cidades
europeias com mais população idosa, disse
anteontem o sociólogo Paulo Machado,
investigador do Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC) na sessão técnica
"Os idosos na cidade e a cidade
envelhecida".
Segundo o sociólogo, as freguesias de
Alvalade e São João de Brito são as que
registam o maior número de idosos. A zona
centro da cidade também apresenta um elevado
envelhecimento da população.
Em Lisboa, "a maioria das pessoas" de
meia-idade que aqui nasceram deslocaram-se
para a periferia da cidade. Esta é uma das
razões apontadas pelo investigador para que
a capital seja a cidade portuguesa com mais
idosos.
O investigador afirma: "Temos tido uma
miopia técnico-política em relação ao
envelhecimento na cidade de Lisboa." E que
este problema "não se revolve nos próximos
50 anos". Segundo Paulo Machado, uma das
formas de solucionar o problema não está,
porém, na "aceitação maciça de imigrantes",
pois além de a cidade não estar "preparada"
para isso, "os europeus não estão para
resolver os problemas da velhice à custa dos
filhos dos outros", ironizou.
O sociólogo chamou também a atenção para o
número de idosos que vivem sós. Segundo os
Censos de 2001, a faixa etária que regista
um maior isolamento social situa-se,
precisamente, entre os 65 e os 80 anos de
idade. Por isso, defende que "o comércio
local tem que permanecer mesmo que não seja
rentável", pois, além de os idosos não
estarem familiarizados com a tendência de ir
aos hipermercados, é uma forma de combater o
seu progressivo isolamento.
Outro dos problemas que o sociólogo
identifica em Lisboa é o afastamento entre
as diferentes gerações, que, por sua vez,
também conduz ao isolamento dos idosos.
Defende, por isso, a criação de uma rede de
meeting points e de espaços de lazer
intergeracionais.
"A sociedade de hoje apresenta
características que são perturbadoras para
os idosos." Segundo Paulo Machado, na cidade
de Lisboa estão também a aumentar os níveis
de insegurança para os idosos. Apontando
como exemplo o Bairro Padre Cruz, o
sociólogo afirma que "hoje as pessoas de
idade têm medo do que não conhecem e são
cada vez menos respeitadas".
Outro dos problemas identificados em Lisboa
pelo sociólogo é o número elevado de
atropelamentos de idosos. Paulo Machado
explica que o facto de a altura média dos
automóveis estar a aumentar faz com que os
mais velhos não sejam vistos. Por outro
lado, as ruas de Lisboa são permanentemente
"ocupadas" pelos veículos, sendo, por isso,
um constrangimento à sua circulação.
O investigador apresentou ainda um conjunto
de "boas práticas" a fim de melhorar a
relação entre o idoso e o espaço público,
tais como a "criação de redes viárias
pedonais", a "melhoria da iluminação
pública" e a "sinalética para o transporte
público rodoviário urbano adaptada para
idosos".
Paulo Machado disse ainda que o
envelhecimento das sociedades é um "gerador
de incertezas no presente", bem como um
"risco para as sociedades vindouras", pois a
comunidade corre o perigo de chegar a uma
situação em que não será possível dar
"resposta à nova ordem demográfica", ou
seja, ao aumento do número de idosos e à
diminuição do número de crianças.
As zonas mais pobres do país, Centro e Sul,
correspondem às que também são as mais
envelhecidas. Paulo Machado diz que desta
relação se pode concluir que o
"envelhecimento reforça a pobreza e que os
idosos são muito pobres".