Embora já imaginasse uma certa reacção,
nunca pensei que a classe dos professores se
manifestasse com tanta violência em relação
ao meu texto anterior sob o mesmo título. Há
aqui aspectos irracionais que têm certamente
a ver com uma experiência da escola
profundamente traumática. Uma das mensagens
que recebi no telemóvel dizia: "Sou
debilóide, fiz greve." Como se trata de uma
das minhas melhores amigas, e como sempre a
considerei extremamente inteligente, fui ver
o que tinha escrito: 1) eu nunca disse, nem
diria, que os professores que fizeram greve
são "debilóides"; 2) o que eu escrevi é que
aqueles que por serem de Matemática dizem
que não podem dar actividades de
substituição quando falta o professor de
História se manifestam como "debilóides".
Não se pode generalizar a palavra a todas as
situações - e convém que um professor leia
os textos com a devida atenção e não se
precipite quando vê um vocábulo que julga
mais insultuoso, achando que necessariamente
tem a ver com ele. Quanto ao mais, não
retiro uma só vírgula de tudo o que escrevi.
Ouvi a ministra dizer até o que me parece
ser importante: que não se trata de dar
aulas, mas de conduzir actividades de
substituição. Isso implica a possibilidade
de utilizar material que não sei se as
escolas possuem: seria útil que tivessem
filmes, CD, DVD, discos de poesia dita,
jornais e revistas de todos os géneros e que
se habituassem a pensar com exercícios
lúdicos propostos pelo professor - isto é,
existe uma metodologia das actividades de
substituição.
O que me respondem é que em muitas escolas
os professores vivem um clima de terror.
Alguém me contava que havia professores que
vomitavam de reacção nervosa antes de
entrarem na aula. Sem falar nos casos
absolutamente inadmissíveis de agressão dos
professores, muitas vezes com a cobertura
vitimizadora dos próprios pais. Um
correspondente do PÚBLICO escrevia há dias,
numa carta do maior interesse, que se
assistia (não apenas em Portugal,
sublinhe-se) a uma transferência das
responsabilidades tradicionais da família e
do papel psicanalítico do pai para o espaço
da escola e para uma sociedade sem pais. Que
resulta daqui? Uma saturação explosiva do
espaço da escola sobre a qual recai um
excesso de expectativas. Mas conheço muitos
professores excelentes que sabem lidar com
os alunos e estabelecer com eles nexos de
cumplicidade. É possível, portanto. E também
devo reconhecer que alguns professores vivem
das matérias que aprenderam na faculdade e
não têm aquele mínimo de cultura geral que
se exige a quem ensina.
Concluo, portanto, que é necessário
restabelecer níveis justos de disciplina na
escola. E (para agravar ainda mais o meu
caso) gostaria de dizer o que já repeti por
várias vezes: que muitos dos males da escola
vêm da propagação de ideias no ministério
desses profissionais de uma ciência
inexistente a que dão o nome de "pedagogia".
Cuidado, senhora ministra! Professor
universitário