Público - 25 Nov 05

Lideranças fortes tornam escolas mais autónomas

Bárbara Wong

 

Experiências europeias de gestão no ensino vão ser debatidas, no início da próxima semana,
na Gulbenkian

Há três factores para que as escolas básicas e secundárias ponham em prática a lei da autonomia: liderança, estabilidade do corpo docente e um projecto educativo próprio. A receita é dada por Eduardo Marçal Grilo, ex-ministro da Educação e administrador da Fundação Calouste Gulbenkian. No início da próxima semana, a instituição vai promover a sua conferência anual sobre educação, em Lisboa. Desta vez o tema é a autonomia das escolas.
O chamado regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário - que permite que as escolas desenvolvam um projecto educativo adequado aos contextos em que se inserem - já existe há sete anos, mas apenas a conhecida Escola da Ponte, em Vila de Aves, celebrou um contrato com o Ministério da Educação.
Há, no entanto, outros estabelecimentos de ensino que, mesmo não tendo assinado um acordo com a tutela, trabalham à luz da lei. Durante a conferência internacional sobre educação, na Gulbenkian, vai ser possível conhecer três desses exemplos.
Duas das escolas que foram convidadas para falar sobre a sua experiência trabalham em ambientes adversos, onde não há apoio da família, retrata Neves Adelino, professor na Universidade Nova e comissário do encontro. Nesses estabelecimentos de ensino, o professor encontrou "lideranças fortes e ideias claras" sobre o que deve ser a escola.
Os estabelecimentos de ensino não se devem fechar sobre si mesmos, mas comunicar com o resto da sociedade, pais e mercado empregador, aponta Nicolau Santos, jornalista convidado como relator da conferência. Tem de haver um "alinhamento de interesses para que as organizações tenham comportamentos funcionais", acrescenta Neves Adelino.
A autonomia tem também de ser avaliada. Segundo o comissário do encontro, "até certo ponto" a autonomia é um contra-senso porque é a cedência de um poder do Estado às comunidades locais, mas sobre o qual o poder central tem responsabilidades. Ou seja, as escolas exercem a autonomia, mas é o Ministério da Educação que é chamado a responder.

Pouca adesão
Durante o encontro, haverá ainda tempo para conhecer exemplos do que tem sido feito no Reino Unido, Holanda, Catalunha e Escócia.
A fundação está surpreendida com a pouca adesão à conferência. Se em anos anteriores tem havido cerca de mil inscrições, este ano o público interessado fica pelas três centenas e são sobretudo responsáveis de conselhos executivos de escolas.
Esta questão também denota a importância que os docentes dão à autonomia, aponta Carmelo Rosa, director do serviço de educação e de bolsas da fundação. "Os professores não entendem que a importância da autonomia passa por todo o corpo docente e que também é um problema deles", lamenta.
Marçal Grilo defende a "alteração das mentalidades" e lembra que os principais opositores à autonomia das escolas têm sido os sindicatos, que "têm horror" à ideia. Se, em última instância, as escolas puderem contratar os professores, a função das estruturas sindicais esvazia-se, justifica o ex-ministro. "O conceito de um sistema educativo onde as escolas são todas iguais tem de rebentar, porque cada escola é uma escola", conclui.

 

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