Experiências europeias de gestão no ensino
vão ser debatidas, no início da próxima
semana,
na Gulbenkian
Há três
factores para que as escolas básicas e
secundárias ponham em prática a lei da
autonomia: liderança, estabilidade do corpo
docente e um projecto educativo próprio. A
receita é dada por Eduardo Marçal Grilo,
ex-ministro da Educação e administrador da
Fundação Calouste Gulbenkian. No início da
próxima semana, a instituição vai promover a
sua conferência anual sobre educação, em
Lisboa. Desta vez o tema é a autonomia das
escolas.
O chamado regime de autonomia, administração
e gestão dos estabelecimentos da educação
pré-escolar e dos ensinos básico e
secundário - que permite que as escolas
desenvolvam um projecto educativo adequado
aos contextos em que se inserem - já existe
há sete anos, mas apenas a conhecida Escola
da Ponte, em Vila de Aves, celebrou um
contrato com o Ministério da Educação.
Há, no entanto, outros estabelecimentos de
ensino que, mesmo não tendo assinado um
acordo com a tutela, trabalham à luz da lei.
Durante a conferência internacional sobre
educação, na Gulbenkian, vai ser possível
conhecer três desses exemplos.
Duas das escolas que foram convidadas para
falar sobre a sua experiência trabalham em
ambientes adversos, onde não há apoio da
família, retrata Neves Adelino, professor na
Universidade Nova e comissário do encontro.
Nesses estabelecimentos de ensino, o
professor encontrou "lideranças fortes e
ideias claras" sobre o que deve ser a
escola.
Os estabelecimentos de ensino não se devem
fechar sobre si mesmos, mas comunicar com o
resto da sociedade, pais e mercado
empregador, aponta Nicolau Santos,
jornalista convidado como relator da
conferência. Tem de haver um "alinhamento de
interesses para que as organizações tenham
comportamentos funcionais", acrescenta Neves
Adelino.
A autonomia tem também de ser avaliada.
Segundo o comissário do encontro, "até certo
ponto" a autonomia é um contra-senso porque
é a cedência de um poder do Estado às
comunidades locais, mas sobre o qual o poder
central tem responsabilidades. Ou seja, as
escolas exercem a autonomia, mas é o
Ministério da Educação que é chamado a
responder.
Pouca adesão
Durante o encontro, haverá ainda tempo para
conhecer exemplos do que tem sido feito no
Reino Unido, Holanda, Catalunha e Escócia.
A fundação está surpreendida com a pouca
adesão à conferência. Se em anos anteriores
tem havido cerca de mil inscrições, este ano
o público interessado fica pelas três
centenas e são sobretudo responsáveis de
conselhos executivos de escolas.
Esta questão também denota a importância que
os docentes dão à autonomia, aponta Carmelo
Rosa, director do serviço de educação e de
bolsas da fundação. "Os professores não
entendem que a importância da autonomia
passa por todo o corpo docente e que também
é um problema deles", lamenta.
Marçal Grilo defende a "alteração das
mentalidades" e lembra que os principais
opositores à autonomia das escolas têm sido
os sindicatos, que "têm horror" à ideia. Se,
em última instância, as escolas puderem
contratar os professores, a função das
estruturas sindicais esvazia-se, justifica o
ex-ministro. "O conceito de um sistema
educativo onde as escolas são todas iguais
tem de rebentar, porque cada escola é uma
escola", conclui.