«O ENVELHECIMENTO impõe o
desenho de novas políticas sociais»,
disse o Presidente da República ao EXPRESSO
no final da semana que escolheu para viajar
pelo Portugal dos idosos. Jorge Sampaio é
mesmo «favorável a políticas de
apoio à natalidade», medidas que tardam
em surgir. Para o demógrafo Mário Leston
Bandeira, o cenário é dramático:
«Estamos a assistir a um terramoto há, pelo
menos, 30 anos. E reagimos como se nada
tivesse acontecido».
Portugal está velho.
Existe maior número de idosos com mais de 65
anos do que jovens com menos de 15. Nascem
cada vez menos crianças e, contas feitas
pelo INE, daqui a quatro décadas um terço da
população será de idosos, numa proporção
alarmante - para cada cem jovens haverá 250
pessoas com mais de 65 anos.
Esta poderia ser uma
ameaça. Mas Jorge Sampaio prefere assumi-lo
como «um problema, aliás comum a
outros países e que desafia as políticas de
solidariedade concebidas para sociedades
onde a percentagem de jovens era superior à
de idosos». Em declarações ao EXPRESSO,
o Presidente afirma não ter dúvidas em
considerar que o envelhecimento populacional
tem um lado positivo, naquilo que resulta
«do aumento da esperança de
vida, de prolongamento da vida activa» e
do que pode significar em termos de
«participação e dignidade».
No entanto, tem também um impacto negativo
que se traduz «no aumento de
situações extremas de solidão, sofrimento e
desesperança».
Neste sentido, não restam
dúvidas de que, «se não
prevenirmos e contrariarmos os aspectos
negativos, o pacto intergeracional que
sustenta e dá coerência ao nosso modelo de
protecção estará ameaçado».
«Impõe-se o desenho de novas políticas
sociais», conclui o Presidente, que
defende como «necessário adoptar
medidas corajosas e criativas», capazes
de «inverter o círculo vicioso
do problema». Sampaio não esconde mesmo
ser «favorável a políticas de
apoio à natalidade».
«Deixar morrer
Portugal».
Para Mário Leston
Bandeira, especialista em demografia e
professor do ISCTE, o envelhecimento
português «é um problema grave e
conhecido há pelo menos 30 anos». No
entanto, «não se tem notado
grande preocupação por parte dos Governos.Há
mesmo uma certa displicência e desinteresse»,
diz.
Mas não restam dúvidas
sobre a gravidade da situação. A quebra da
natalidade e o envelhecimento populacional
são tanto mais graves quanto
«não têm quaisquer perspectivas de ser
invertidas. São tendências marcantes há anos
e que vão continuar». São fenómenos
equivalentes a «uma espécie de terramoto
e, por isso mesmo, têm de ser tratados como
tal», isto é, os governos devem
«recorrer a grandes medidas que contrariem
estes efeitos». De outra maneira, «estamos-nos
a deixar morrer, a perder peso e a caminhar
para a agonia».
Assumindo que a questão
do envelhecimento populacional faz parte do
grupo de «problemas estruturais, tão
importantes como a Defesa Nacional ou a
promoção da língua, porque dizem respeito à
nossa sobrevivência como país», Leston
Bandeira considera que a adopção de medidas
políticas «é inevitável». E
cita casos como o da França e dos países
nórdicos, onde a tendência para o
envelhecimento e para a quebra da natalidade
foi contrariada. «As políticas
de incentivo à natalidade são eficazes»
e a fórmula adoptada pela Suécia - que nos
anos 90 conseguiu inverter a curva
descendente da natalidade -«é a
mais interessante». Neste momento, os
suecos têm uma taxa de fecundidade maior do
que a portuguesa (1,8 filhos por mulher,
contra os 1,4 nacionais) e os incentivos à
natalidade passam não apenas por apoios
financeiros directos (como é feito na
generalidade dos países), mas também por
políticas «articuladas de apoio
à conciliação da vida profissional e
familiar».