Público - 29 Nov 05
Duas dezenas
de escolas vão
ter autonomia
para contratar
professores e
pessoal auxiliar
Bárbara Wong
Ministério da Educação reforça experiências de
descentralização no próximo ano lectivo
No próximo ano lectivo haverá cerca de
duas dezenas de escolas públicas que vão assinar contratos
de autonomia com o Ministério da Educação (ME). O anúncio
foi ontem feito pela ministra da Educação, Maria de Lurdes
Rodrigues, na abertura de um seminário sobre autonomia das
escolas, que hoje termina na Fundação Calouste Gulbenkian,
em Lisboa.
A assinatura de um contrato entre os estabelecimentos de
ensino e a tutela prevê a descentralização de alguns poderes
que actualmente são do ministério, como por exemplo a
contratação de docentes e a intervenção no processo de
selecção do pessoal não docente.
"No próximo ano teremos novos contratos", anunciou a
ministra perante uma plateia de professores e dirigentes de
conselhos executivos de estabelecimentos de ensino básico e
secundário. Apesar de a lei que prevê o regime de autonomia
dos estabelecimentos de ensino ter sete anos, apenas a
escola básica de 1.º ciclo de Vila das Aves (concelho de
Santo Tirso), mais conhecida por Escola da Ponte, assinou um
contrato de autonomia, durante o Governo de Santana Lopes.
Até ao final deste período lectivo, a tutela quer
seleccionar 20 escolas. Algumas estão a propor-se, outras é
o ministério que está a seleccioná-las por considerar serem
bons exemplos, informa a ministra. Estas terão de fazer uma
auto-avaliação e depois ser sujeitas a uma análise por parte
do ME.
A intenção é que este passo dado no sentido da
descentralização de poderes por parte do ministério seja uma
"acção exemplar". Deve, por isso, ser feito com escolas que
já são de "referência e que podem ser exemplo para as
outras", explica a ministra aos jornalistas, à margem da
conferência.
Para o ministério a assinatura de 20 novos contratos será
uma acção-piloto de "pequena dimensão". Para já, a
governante não prevê qual será o calendário para alargar a
assinatura de acordos a mais estabelecimentos de ensino; nem
por quem será feita a avaliação externa às instituições. "A
autonomia é um enorme incentivo para as escolas e trata-se
de um reconhecimento público da qualidade do ensino
prestado, uma vez que está associada à avaliação", declara
Maria de Lurdes Rodrigues.
Segundo a responsável pela tutela, "é preciso transferir
gradualmente competências que estão hoje centralizadas".
Maria de Lurdes Rodrigues reconhece que "nem sempre" a
gestão centralizada é eficiente no que diz respeito à
substituição dos professores por motivo de doença ou à
distribuição de materiais pedagógicos.
"Monitorizar,
acompanhar e apoiar"
Mas a autonomia também acarreta riscos: por exemplo, na
contratação de docentes, porque há o "receio que prevaleçam
critérios de clientelismo", diz a ministra. Outro dos
perigos apontados é o reforço das desigualdades já
existentes entre escolas de excelência e outras, reconhece a
governante. E nesse sentido há "enormes vantagens em
preservar algum centralismo", para garantir que todos os
alunos tenham igualdade de acesso a um ensino de qualidade.
Para a ministra da Educação, no entanto, o caminho que o
poder político deve adoptar progressivamente é o da
descentralização, até porque a autonomia prevê uma
racionalização de recursos e ganhos a nível de qualidade, se
for transferida para as escolas.
Também por isso, no futuro caberá ao ministério e às
direcções regionais de Educação um outro papel que não
apenas o de emitir circulares com ordens, mas também o de
"monitorizar, acompanhar e apoiar as escolas", conclui Maria
de Lurdes Rodrigues.
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