Diário de Notícias -
6
Nov 06
Falta de verbas
obriga os pais a pagarem prolongamento de horário
Ângela Marques
O financiamento do prolongamento de horário do 1.º
ciclo do ensino básico está a falhar. As verbas
cedidas pelo Ministério da Educação são curtas, diz
a Associação Nacional de Municípios, e "devem ser
revistas". As associações de pais, que têm sido
chamados a contribuir, fazem amanhã uma "denúncia
pública" da situação, que é ilegal.
"As escolas não tinham experiência nenhuma em
actividades de enriquecimento curricular e houve
erros de avaliação", diz Albino Almeida, presidente
da Federação das Associações de Pais de Vila Nova de
Gaia. "Não foram capazes de prever o número de
tarefeiros de que precisariam [para manter as
escolas abertas até às 17.30] nem conseguiram
antecipar as necessidades de consumíveis, como o
papel, as canetas ou os lápis", explica o
ex-presidente da Confederação das Associações de
Pais (Confap).
Resultado: o que falta às escolas está a sair dos
bolsos dos pais. "E isso é rigorosamente ilegal,
porque estas actividades são, por lei, de frequência
gratuita", sublinha. Segundo um despacho da ministra
da Educação, a tutela tem um modelo de financiamento
para estas actividades que tem como base um valor
anual por estudante. "Esta comparticipação poderá
chegar até aos 250 euros anuais por aluno, quando os
planos de actividades incluírem o Inglês, a Música e
a Actividade Física e Desportiva, prevendo-se um
investimento total entre 80 e 100 milhões de euros",
diz o despacho.
E é aqui que começam os problemas. É que, de acordo
com António José Ganhão, responsável para a Educação
da Associação Nacional de Municípios, "está a ser
solicitado às câmaras municipais material que não
estava previsto e cujos custos vão sobrecarregar as
autarquias".
Uma vez que o apoio financeiro está definido, em
protocolo, entre o Ministério da Educação, as
câmaras municipais e os agrupamentos de escolas, a
responsabilidade pelas falhas é também repartida.
Mas "o valor das verbas cedidas pelo ministério
carece de ser revisto, porque as câmaras não podem
aceder aos pedidos das escolas e não se pode exigir
mais aos pais", diz António José Ganhão. Contactado
pelo DN, o porta-voz do Ministério da Educação
afirmou não ter "quaisquer elementos" sobre a
matéria.