Público - 21
Nov 06
Plataforma Não Obrigada afasta-se de campanha
religiosa
Ricardo Dias Felner
Movimento quer reunir todos os que acreditam que
antes das dez semanas de gravidez existe um bebé
"que já sorri
A plataforma Não Obrigada, que fará campanha pelo
"não" no referendo à interrupção voluntária da
gravidez, irá procurar afastar-se do argumentário
confessional, apostando num registo "inovador,
moderado, moderno e profissional".
Um documento programático do movimento, a que o
PÚBLICO teve acesso, revela que a plataforma
(oficialmente apresentada no final do mês) deverá
ser "apartidária, não confessional e muito
abrangente" - reunindo um conjunto de personalidades
que "acreditam que antes das dez semanas existe um
bebé formado no ventre da sua mãe que já sorri".
Uma das ideias-chave da campanha passará por
defender que o que está em causa não é uma
despenalização da interrupção voluntária da
gravidez, como é referido na pergunta sujeita a
referendo (aprovada pelo Tribunal Constitucional,
cujo acórdão foi ontem publicado em Diário da
República), "mas sim de uma total liberalização e
legalização até às dez semanas".
Segundo o Não Obrigada, se o "sim" vencer,
poder-se-á "abortar sem que sejam evocados os
motivos de excepção já previstos na lei,
nomeadamente, em última análise, abortar para
escolher o sexo do bebé".
Nestas circunstâncias, acrescenta a plataforma, "vai
aumentar exponencialmente o número de abortos, como
aconteceu noutros países da Europa, e
consequentemente vai também aumentar o número de
mulheres com dramáticos problemas psíquicos".
Ainda de acordo com o mesmo documento, para
sustentar os argumentos do "não", serão publicados
dados que permitirão tirar "várias conclusões, entre
elas que não houve nenhum julgamento em Portugal por
aborto até às dez semanas e que vão continuar a
haver julgamentos e prisões depois das dez semanas".
Entre as personalidades que participaram na primeira
reunião do Não Obrigada, realizada na passada
quinta-feira, estão Luís Nobre Guedes, ex-dirigente
do CDS-PP, Diogo Feio, deputado do CDS-PP, o
professor de Economia João César das Neves, e a
deputada do Movimento Humanismo e Democracia, eleita
como independente nas listas do PS, Teresa Venda.
Embora não tendo estado presentes nesse encontro,
também o ex-dirigente do PSD António Pinto Leite, a
dirigente do CDS Maria José Nogueira Pinto e a
jornalista Laurinda Alves terão manifestado o seu
apoio ao movimento.