Jornal de Negócios online -
24
Nov 06
Ricas universidades
Sérgio Figueiredo
A comoção que já estava instalada
sobre o corte de verbas no Orçamento de Estado, mais
os resultados ontem divulgados da avaliação do
Ensino Superior, apenas confirmam aquilo que todos
suspeitavam: as universidades são um assunto
demasiado importante para serem confiados ao governo
dos que por lá andam.
A universidade portuguesa, como o
ex-ministro Marçal Grilo sempre sublinhou, deveriam
afirmar-se como um "centro de racionalidade". Nem
que seja pela sua obrigação intrínseca de darem o
exemplo, perante a sociedade que as financia.
Mas quando pensávamos que, ali
sim, os projectos e os objectivos eram definidos de
acordo com os recursos disponíveis, eis que
assistimos a uma choradeira sem fim, de reitores a
ilustres professores, sobre as verbas que nem sequer
cobrem os salários.
Até pode ser. Mas, repito, de
académicos, de homens que fazem do método a base da
sua profissão, exige-se muito mais do que a
reivindicação. E, até hoje, não se vislumbrou o
mínimo esforço para colocar a discussão no único
patamar em que é admissível que ela seja realizada.
É aí que entra a avaliação. A
decepcionante avaliação que não produziu qualquer
efeito, ao longo de dez anos e num universo superior
a 1500 cursos avaliados.
Às escolas com avaliações
negativas, ou às que recusaram seguir as
recomendações do Conselho Nacional, não foi aplicada
uma única sanção.
Até as instituições que, pura e
simplesmente, recusaram submeter os seus cursos ao
escrutínio, ficaram como estavam. Não houve, ao
longo de uma década, um Governo, um ministro, capaz
de assinar a redução, até a suspensão, do
financiamento público aos relapsos.
Até por pudor, deveriam os
responsáveis pela gestão das universidades
portuguesas evitar pedir mais dinheiro sem exigir
resultados.
Mas tal não acontece. E não
acontecerá, por livre e espontânea vontade dos
próprios, porque é o governo da universidade que
está em xeque. Sob a capa da autonomia financeira, o
país perdeu a noção das capacidades que possui nas
suas escolas.
A política pode não atacar
demasiado o "status quo" para não criar mais
anti-corpos. Mas também não deveria evocar a crise
orçamental como pretexto para pôr as universidades
na ordem.
Primeiro, porque ainda que o
Estado português vivesse em superavite crónico, o
problema tinha de ser atacado. Segundo, porque
qualquer análise séria obriga a concluir que a
situação a que chegou o nosso sistema de ensino
superior é tão calamitosa como a das contas
públicas.
A avaliação e a acreditação das
instituições de ensino é o caminho mais seguro para
promover a excelência. Ela hoje já existe, mas não
se pode branquear a crítica ao actual estado das
coisas só por uns carolas terem conseguido,
pontualmente, criar essa áreas de excelência.
Quem comparar a universidade com
a realidade das nossas empresas, não tem a certeza
onde é pior a situação. Mas duas coisas são certas.
Uma é que não existe uma empresa em Portugal com tão
grande número de pessoas qualificadas como as
universidades. Quantas contam com meio milhar de
funcionários licenciados nos seus quadros? Uma?
Duas?
A outra verdade inquestionável é
sobre o destino certo das medíocres e incompetentes:
a empresa abre falência, a universidade pede reforço
de verbas.