Jornal de Negócios online -
24
Nov 06
Éticos à força
Jorge Libano Monteiro
Fomos
mais uma vez confrontados, na última semana, com um
amplo conjunto de notícias, algumas delas
"orientadas", e com um punhado de factos que apontam
para uma alegada ausência de ética no mundo
empresarial e dos negócios.
Além dos factos típicos do mundo
do futebol, nomeadamente os que envolvem
transferências de jogadores, e das notícias sobre a
dimensão da economia paralela, assistimos a um
ataque cerrado à Banca, gerador de uma vaga de
suspeitas sobre um sector de actividade central para
Portugal.
Foi o próprio primeiro-ministro a
deixar no ar suspeições várias, numa atitude
encarada por muitos como uma tentativa de ganhar
protagonismo político e de desviar as atenções de um
orçamento difícil de digerir pelo eleitorado. Por
isso mesmo, terá anunciado um conjunto de medidas
que, por serem um decalque de outras já existentes,
ou inviáveis na sua aplicação, pouco ou nada trazem
de interessante e inovador ao tema.
Entretanto, o Banco Espírito
Santo em Espanha foi alvo de uma "inaceitável"
campanha mediática que acusava a instituição de
alegada conivência com operações de branqueamento de
capitais, embora, no final, segundo os dados
conhecidos, tudo não terá passado de algumas dúvidas
sobre pequenas contas sem grande significado (o que
não limitou os estragos directos e indirectos sobre
o bom nome do Banco).
Ainda sobre a Banca, circulou a
notícia de más práticas no arredondamento dos juros
e festejou-se a vitória de uma associação de defesa
dos consumidores que conseguiu a alteração da lei e
a correcção das práticas indevidas.
Este conjunto de acontecimentos
soltos veio mostrar à evidência, uma vez mais, a
importância da ética na boa governação das empresas
e no seu sucesso. Nos dias de hoje, não basta estar
centrado no negócio no sentido restrito, antes é
essencial prestar a máxima atenção às questões
éticas e ao seu impacto social. A Ética e a boa
governação das empresas não são uma escolha, mas uma
necessidade, devendo estar presentes em todas as
decisões estratégicas.
Embora a adopção de
comportamentos éticos se imponha cada vez mais pela
força das circunstâncias e das evidências, seria por
certo preferível que cada um de nós percebesse e
assumisse a necessidade de desenvolver
comportamentos éticos como uma forma de se realizar
em termos pessoais e profissionais.
Por isso se saúda a introdução de
cadeiras e programas de estudo desta área nas
melhores licenciaturas e MBA de gestão, bem como a
promoção de grupos de debate em torno da
espiritualidade na gestão e o peso crescente que o
carácter e os valores pessoais têm nas decisões de
contratação. Por isso é também essencial a
introdução de códigos de ética empresarial que
expressem a cultura da empresa e explicitem normas
de actuação.
De qualquer forma, importa ter
presente que todo este esforço, embora possa minorar
possíveis desvios, nunca conseguirá atingir o efeito
desejado se cada pessoa, cada colaborador não
assumir esses valores como seus, se não perceber a
importância que a sua conduta e as suas decisões têm
perante o seu próprio destino. Em suma, se não tiver
a noção de que, tal como nas empresas excelentes, a
excelência do seu projecto de vida passa pela
fidelidade aos valores em que acredita, sob pena de
perder o respeito por si próprio.
É por isso essencial apostar no
carácter dos gestores, voltar a apostar nos valores
como base da sociedade que queremos construir. É
imprescindível lutar contra a ditadura do
relativismo que nos querem impor, que não reconhece
nada como definitivo e que deixa, como última
medida, apenas o prazer.
A realidade vai provando às
empresas e a cada um de nós que a defesa de valores
e do carácter dos seus colaboradores é essencial
para o seu êxito. Os gestores começam a perceber que
a sua conduta ética e a fidelidade aos valores é
essencial para o desenvolvimento da sua carreira. É
pois chegado o momento de perceber que estas opções
éticas se impõem pela sua própria força. E que têm
de ser assumidas de peito aberto, mesmo contra
critérios meramente economicistas e sem olhar aos
resultados mais imediatos.