Diário de Notícias - 24
Nov 06
Reforma da
Segurança Social viabilizada só com os votos do PS
Eva Cabral
Vieira da Silva considera que a introdução do factor
de sustentabilidade configura uma reforma estrutural
da Segurança Social. O ministro do Trabalho e da
Solidariedade apresentou ontem, no Parlamento, as
bases gerais do sistema d e Segurança Social, um
diploma contestada por todos os partidos da oposição
parlamentar, que também apresentaram as suas
propostas legislativas. Apesar das várias propostas
em confronto só a do PS é que foi viabilizada na
hora da votação.
Logo no discurso inicial, Vieira da Silva comentou
os projectos avançados quer pelo PSD quer pelo
CDS-PP, acusando os dois partidos de inércia nos
três anos que estiveram no Governo. O ministro
desafiou-os a explicar como pagariam a dívida
pública que se iria acumular ao longo do período de
transição para o regime de capitalização, que quer
um quer outro propõem.
Mas também os partidos de esquerda, que têm
defendido a resolução do problema da
sustentabilidade da Segurança Social com um aumento
da receita à custa de mais um imposto sobre as
empresas, foram "atacados" por Vieira da Silva.
Apresentado em Abril do ano passado nas suas linhas
gerais, o diploma de reforma da Segurança Social foi
negociado ao longo de vários meses na Concertação
Social. O ministro defende que a sua reforma da
Segurança Social garante a manutenção de um sistema
de protecção solidário e universal mas também exige
mais responsabilidade aos cidadãos.
Projecções
Pais Antunes do PSD criticou a proposta do Governo,
afirmando que esta não garante a sustentabilidade do
sistema e chamando a atenção para o facto de
constituir um ataque aos direitos adquiridos dos
portugueses.
O deputado social-democrata adiantou mesmo que a
proposta do Governo é uma mera "tentativa de
remendo" do actual sistema.
A proposta do PSD defende a adopção de um sistema
misto, em que parte do financiamento do sistema cabe
aos privados e outra parte ao Estado.
Pais Antunes lançou ainda o repto ao Executivo para
apresentar projecções para a Segurança Social a 60
ou 70 anos, e não apenas a 50 anos.
Na resposta, Vieira da Silva adiantou que o Governo
está a fazer o mesmo que se faz em outros países,
usando os dados disponíveis do Eurostat.
Jorge Machado, do PCP, acusou o Executivo de querer
a sustentabilidade da Segurança Social à custa da
redução da despesa, ou seja, das pensões. O deputado
comunista referiu que o efeito conjugado das medidas
do Governo implica que "a taxa de substituição, que
hoje ronda os 84 %, passe a ser em 2050 de apenas 55
%".
Pedro Mota Soares do CDS-PP também criticou
duramente a proposta do Executivo , adiantando que a
solução avançada é uma de três más escolhas : pagar
mais para a Segurança Social, trabalhar mais tempo
ou receber menos pensões.
O deputado questionou Vieira da Silva sobre quando
vai o Governo apresentar uma proposta concreta sobre
o plafonamento do sistema. O ministro, na resposta,
afastou totalmente esta hipótese.
Mariana Aiveca, do Bloco de Esquerda, acusou o
Governo de estar com pressa para baixar as pensões,
a protecção social e impor a "perda de direitos" aos
portugueses. Para a deputada, a proposta do Governo
vai baixar as pensões, com a alteração da fórmula de
cálculo, com a introdução do factor de
sustentabilidade e com a redução da taxa de
substituição.