Diário de Notícias - 24
Nov 06
Só um quarto dos
PPR tem rentabilidade real positiva
Pedro Ferreira
Esteves
No final do ano, os meios de comunicação são
invadidos por campanhas de publicidade que promovem
diversos planos poupança-reforma (PPR) disponíveis
no mercado português. Os benefícios fiscais que
estes produtos oferecem estimulam a procura por PPR
nesta época - para que possam ser utilizados nas
declarações de rendimentos do próximo ano - e as
rentabilidades são muitas vezes utilizadas como
factor de promoção por cada banco ou sociedade
gestora. No entanto, o que a publicidade não diz de
forma completa é que os custos associados aos PPR
tornam, muitas vezes, as rentabilidades anunciadas
em taxas negativas. E que, portanto, tão importante
como analisar os resultados dos produtos é comparar
os custos implícitos em cada um deles.
A estrutura de custos dos PPR está, na generalidade
dos casos, elaborada de forma a privilegiar os
aforradores com maior capacidade financeira e
aqueles que podem permanecer mais tempo no produto
(o prazo dos cinco anos é favorecido). E esses
custos dividem-se nos três momentos de vida dos PPR:
entrada (subscrição), permanência (gestão e
depósito) e saída (resgate ou transferência). É na
soma destas comissões que se encontra o verdadeiro
custo para os clientes das instituições financeiras.
Na análise que o DN efectuou foram consideradas as
situações de custos mais desfavoráveis. Isto é,
partiu-se do princípio de que, ao fim de poucos
meses, o aforrador decidia mudar de fundo ou
simplesmente retirar a sua poupança. E, neste
cenário, as rentabilidades ficam realmente negativas
em cerca de 75% dos casos. No fundo, dos 30 PPR com
retornos divulgados pela associação do sector
(Associação Portuguesa de Fundos de Investimento,
Pensões e Patrimónios - APFIPP), apenas sete
conseguem devolver o capital investido com juros
acumulados, depois de retirados os custos
implícitos. De notar que as taxas de custos
utilizadas (ver caixas abaixo) acumulam as
comissões de resgate com as de transferência, uma
situação que não se verifica na realidade. No
entanto, esta metodologia serve para dar uma ideia
mais completa da filosofia de cada um dos produtos.
As comissões à saída e à entrada são decisivas para
distinguir os produtos. Um exemplo disso é que a
única gestora que não as cobra, a Sociedade Gestora
de Fundos, é a mais barata do mercado. Por outro
lado, os custos de gestão não reflectem, muitas
vezes, a qualidade do trabalho desenvolvido (nem o
risco envolvido nos activos), já que as comissões
mais altas não são acompanhadas por desempenhos mais
positivos. Sublinhe-se que as taxas a 12 meses são
apenas indicativas do trabalho recente dos gestores,
já que os PPR devem ser analisados em prazos mais
longos.