Diário de Notícias - 24
Nov 06
Droga entre
jovens é mais frequente nos que saem à noite. Haxixe
à venda em Portugal é o mais barato da Europa
Rute Araújo
em Bruxelas
Portugal é o país da Europa onde a cannabis é
mais barata. Cada grama de haxixe custa 2,3 euros e
cada grama de erva 2,7 euros, quando a média dos
restantes Estados varia dos cinco aos dez euros, e
na Noruega ascende mesmo aos 12. De acordo com o
relatório anual do Observatório Europeu da Droga e
Toxicodependência (OEDT), ontem apresentado em
Bruxelas, nunca custou tão pouco comprar substâncias
ilícitas no espaço europeu.
Pela primeira vez, o OEDT fez uma análise dos preços
a que a droga é vendida nas ruas para concluir que,
em cinco anos (de 1999 a 2004), o custo médio tem
caído a pique. Há casos em que a descida é para
quase metade, como o ecstasy, hoje 47% mais
barato, ou a heroína castanha (45%). Mas todas as
substâncias se tornaram mais acessíveis aos bolsos
dos consumidores ou possíveis consumidores: a
cannabis custa menos 19%, a cocaína menos 22% e
as anfetaminas menos 20%.
"No final dos anos 90, um comprimido de ecstasy
custava 25 euros, hoje os mais baratos conseguem
comprar-se por três euros", exemplifica Henry
Bergeron, um dos peritos do observatório. O facto é
encarado com preocupação, mas o organismo diz que
ainda é cedo para avançar com conclusões definitivas
para esta situação, quer em causas quer em
consequências. Até porque se tra- ta de um mercado
oculto e existem grandes variações de país para
país. O assunto vai ser alvo de uma análise técnica
mais aprofundada nos próximos meses. E são muitas as
perguntas por esclarecer, nomeadamente quanto ao
modelo a seguir neste combate. Se a via mais
proibicionista dos EUA, se o modelo mais
despenalizador da Europa.
Os factores que interferem no preço são diversos -
flutuação da oferta, pureza ou quantidades
transaccionadas. Mas a realidade tem contrariado
aqui- lo que seria a lógica tradicional do mercado:
o aumento das apreensões não influenciou os preços,
nem a sua baixa se tem feito à custa da redução da
pureza das substâncias.
O número de consumidores parece também não ser
explicação para tudo. No caso da cannabis,
por exemplo, Portugal tem os preços mais baixos mas
regista consumos menores, comparado com os restantes
Estados. O uso da substância entre os jovens adultos
está abaixo dos 10%, quando países como a Espanha,
França, República Checa ou Reino Unido ultrapassam
os 25%. O facto de ser uma porta de entrada do
tráfico é parte da explicação. Contudo, a Espanha
também o é e tem valores de venda mais elevados.
O presidente do OEDT, Marcel Reimen, considera que
"o preço é apenas um de muitos factores que
influenciam as pessoas a consumir drogas". Contudo,
"não podemos deixar de estar preocupados por estarem
a ficar mais baratas. Se isto significar que as
pessoas com tendência para consumir drogas as
consumirão mais, o custo final poderá ser
considerável".
Heroína pode voltar a subir
No conjunto de explicações possíveis está também o
aumento da produção. A heroína é um caso exemplar.
Apesar de, no relatório de há um ano, o OEDT ter
registado sinais positivos em relação ao decréscimo
do uso da heroína, este ano admite que "os novos
dados põem parcialmente em causa esta avaliação
positiva". Até porque a substância continua a
circular em grandes quantidades, proveniente quase
toda do Afeganistão. Estima-se que, em 2005, o país
tenha sido responsável por 89% da produção mundial
de ópio (4100 toneladas). O que leva os peritos a
dizerem que "a oferta mundial poderá ser superior à
procura". Ora, o elevado número de doses a circular
no mercado preocupa o presidente do OEDT, que deixa
o alerta: "Apesar de a heroína já não estar na moda,
poderá acontecer que uma nova geração se torne
vulnerável a este consumo e o seu uso volte a
subir."
O DN viajou
a convite do
Observatório Europeu
da Droga
e Toxicodependência